Título: Grampo revela que deputado levou R$ 250 mil
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2006, Nacional, p. A12

As escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal na Operação Sanguessuga indicam que as empresas do esquema de compra de ambulâncias superfaturadas por prefeituras com emendas do orçamento teriam pago a parlamentares propina da ordem de R$ 250 mil. É o que aponta um diálogo entre Darci Vedoin e seu filho, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, donos da Planam (principal empresa do esquema), gravado no dia 17 de novembro passado.

Na conversa eles acertam valores a serem supostamente repassados ao deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ). Luiz Antônio comenta que em outra ocasião deram a ele R$ 250 mil e "não saiu nada". Portanto, sugere, desta vez é melhor aguardar que Gonçalves faça as emendas primeiro. "O Fernando, veja bem, aquela vez a gente deu 250 (R$ 250 mil, segundo a PF), não saiu nada", diz. "Eu levo uns 20, 30 (mil reais), mas só depois que ele fizer."

O filho de Vedoin deixa clara sua preocupação em não fazer pagamentos sem garantia para parlamentares. "Se ele colocar, não na semana que vem, mas na outra a gente vai dar alguma coisa. Não vou dar na semana que vem porque se ele não colocar, a gente vai ter jogado dinheiro fora", diz Luiz Antônio ao pai. E completa: "Outra coisa; não vamos dar dinheiro para mais ninguém não. (...) Joga tudo para fevereiro, março (de 2006)."

A conversa é parte de um grupo de quatro, feitas em seqüência na manhã de 17 de novembro. A primeira é um telefonema do próprio Gonçalves a Darci Vedoin. "Onde você está? Não dá para passar no meu gabinete não?", pergunta. O dono da Planam diz que em dez minutos estará lá. Em seguida, telefona para o filho comunicando que "Fernando, lá do Rio, ligou" e pergunta se "tem alguma coisa para ser feita para ele". Nesse momento, os dois conversam sobre os valores.

Nos diálogos subseqüentes, Vedoin conta que no encontro ficou acertado que o deputado colocará R$ 1,5 milhão em emendas. Ele explica a Luiz Antônio que os valores não serão maiores, como esperavam, porque Gonçalves informou que já tinha se comprometido a reservar recursos para uma obra de saneamento em Nova Iguaçu. Ontem, a reportagem telefonou diversas vezes para o gabinete do deputado em Brasília, mas não obteve resposta.

CPI

Este e outros grampos aos quais o Estado teve acesso já estão sob análise da CPI dos Sanguessugas. Além dos documentos apreendidos pela PF, a CPI examina relatório da Corregedoria da Câmara, elaborado por Robson Tuma (PFL-SP) - que aponta o envolvimento de quase 40 deputados no esquema - e os inquéritos que o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu sobre 15 deputados citados na contabilidade da Planam.

A CPI também espera ter o depoimento de Luiz Antônio Vedoin, que fechou um acordo de delação premiada, ou seja, vai colaborar com as investigações em troca de redução da pena. Desde o início da semana ele presta depoimentos à Justiça revelando detalhes do esquema.