Título: Descoberto plano para explodir túneis em NY
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2006, Internacional, p. A14

Um plano terrorista para colocar explosivos em vias de transporte sob o Rio Hudson, que liga as cidades de Nova York e New Jersey, foi desmantelado no estágio de planejamento, segundo o governo americano. Três suspeitos já haviam sido detidos, incluindo o libanês Asem Hammoud, considerado o líder do grupo. Hammoud foi preso há um mês, pela polícia libanesa, que colabora com o FBI (polícia federal americana) na investigação.

O plano, segundo o comissário da polícia da cidade de Nova York, Raymond Kelly, "não estava nem perto de ser operacional". Nenhum material para bomba foi adquirido e nenhum reconhecimento havia sido feito pelo grupo. O projeto foi descoberto durante um monitoramento de rotina da polícia em salas de bate-papo na internet usadas por grupos extremistas.

De acordo com Mark Mershon, agente encarregado do escritório do FBI em Nova York, os extremistas planejavam atacar especificamente os túneis ferroviários da Port Authority Trans-Hundson (Path) - sistema de transporte sob o Rio Hudson. Outro oficial do FBI revelou que "não há certeza sobre a exata localização do alvo".

Ontem, a polícia americana garantiu ter identificado os oito "principais protagonistas" da conspiração. Segundo Mershon, Hammoud tem 31 anos e havia jurado fidelidade à rede terrorista Al-Qaeda. O governo do Líbano, em nota divulgada ontem, afirmou que Hammoud confessou que viajaria ao Paquistão em breve, para fazer quatro meses de treinamento para os ataques.

Segundo Mershon, as investigações continuam e envolvem seis países em três diferentes continentes. O agente do FBI assegurou que nenhum implicado na trama pôs os pés nos Estados Unidos. Ele ressaltou que as prisões no exterior foram feitas num ponto em que o grupo entrava numa nova fase. "O plano amadureceu ao ponto em que os indivíduos entrariam numa fase de tentar vigiar alvos, estabelecer um regime de ataques e obter recursos necessários para realizar os ataques."

A intenção do grupo seria executar os atentados em outubro ou novembro, segundo as investigações iniciadas há cerca de um ano. A declaração conjunta emitida ontem pelo FBI e pelo Departamento de Segurança Interna ressalta que apesar de "a Al-Qaeda continuar interessada em atacar os EUA", não há "nenhuma informação específica ou crível de que esse grupo esteja planejando atacar em solo americano".

O plano foi noticiado ontem, pelo The Daily News, citando oficiais de contraterrorismo. O jornal apurou que Hammoud e um número desconhecido de outras pessoas pretendiam detonar uma bomba no Túnel Holland na esperança de inundar parte de Manhattan.

Para Mershon, porém, o alvo não seria especificamente o Túnel Holland. Ele disse que o plano envolvia "martírio, explosivos e algumas tubulações ligando New Jersey e Lower Manhattan".

Michael Chertoff, secretário de Segurança Interna, assegurou que uma "corrente de ameaça" viera à luz há vários meses, mas não quis dar maiores detalhes sobre qual era o alvo específico deste plano. Segundo Chertoff, autoridades federais, estaduais e locais haviam tomado "medidas imediatas para impedir a execução de qualquer plano". Ele reconheceu que não havia uma ameaça iminente, mas lembrou que os atentados ao sistema de transporte de Londres, que completaram um ano ontem, mostraram a importância de se agir rápido, mesmo nos estágios iniciais. "A distância entre planejamento e ação efetiva é muito curta."

Chertoff assegurou que as ferrovias (possíveis alvos) continuam sendo "um meio de transporte seguro", mesmo reconhecendo que o risco de ataque não pode ser totalmente descartado. "Não devemos deixar que terroristas nos assustem a ponto de abandonarmos o trem." Para ele, os americanos estão dispostos a conviver com "uma certa dose de risco".

O deputado Peter King, presidente da Comissão de Segurança Interna da Câmara, recordou ontem que mesmo que o Túnel Holland não fosse o alvo desta vez, ele já foi um alvo de terroristas antes, incluindo um plano contra os túneis do Rio Hudson e outros marcos de Nova York descobertos após o atentado ao World Trade Center em 1993.

King criticou a divulgação da notícia pelo The Daily News. "Gostaria que não tivesse sido divulgada", analisou o deputado, alegando que trata-se de uma operação policial ainda em andamento.

Para King, a investigação mostra a necessidade de Nova York receber mais ajuda federal e enfraquece a posição adotada por Chertoff. Ele defende que o financiamento federal deve ser direcionado para melhorias na infra-estrutura e não no pagamento de pessoal envolvido em esforços antiterrorismo. "Isso está drenando recursos de Nova York", afirmou o deputado, referindo-se à atual política de segurança.