Título: Israel admite libertar prisioneiros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2006, Internacional, p. A18
Pela primeira vez Israel indicou ontem que poderá soltar prisioneiros para pôr fim à atual escalada do conflito com os palestinos.
Nos últimos dois dias, pelo menos 32 palestinos, na maioria militantes de grupos armados, foram mortos em ataques da aviação e artilharia israelenses e em confrontos com o Exército, que invadiu na quinta-feira o norte da Faixa de Gaza e permanece em uma área perto da fronteira de Israel.
Segundo os militares, o objetivo dessa operação é forçar a libertação do cabo israelense Guilad Shalit, capturado no dia 25 por três grupos palestinos, e impedir os extremistas de lançar foguetes contra cidades de Israel. É a maior ofensiva na Faixa de Gaza desde que em agosto o país retirou suas tropas e colônias judaicas do território, pondo fim a 38 anos de ocupação.
O ministro da Segurança Pública, Avi Dichter, declarou ontem que Israel poderia libertar alguns presos como "gesto de boa vontade", desde que Shalit seja solto e o grupo radical islâmico Hamas pare de disparar foguetes. "Israel sabe como fazer isso. Israel fez isso mais de uma vez", afirmou Dichter numa entrevista. Ele se referia a acordos para troca de prisioneiros feitos anos atrás com o grupo libanês Hezbollah e militantes palestinos.
A ala militar do Hamas - uma das facções envolvidas na captura de Shalit - distribuiu a vários órgãos de imprensa um comunicado mostrando disposição para dialogar. "Estamos preparados para chegar a um consenso sobre uma fórmula conjunta aceitável para pôr fim ao caso", diz a mensagem. O grupo informou que Shalit está vivo e sendo bem tratado, "conforme exige a religião islâmica".
Outro indício de que um acordo está para ser alcançado foi o comentário do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, sobre garantias dadas por autoridades israelenses de que adotarão "medida recíproca" se Shalit for solto. Funcionários próximos do primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disseram que a declaração de Dichter não reflete a posição oficial do governo. Mas não divulgaram nenhum comunicado oficial negando haver negociações.
A fórmula proposta por mediadores egípcios prevê um acordo em duas etapas. Primeiro, o Hamas solta Shalit e pára com os ataques de foguetes. Em troca, Israel retira suas tropas, pára de bombardear Gaza e se compromete a soltar prisioneiros palestinos no futuro.
O impasse agora, segundo uma autoridade palestina, está no fato de Israel exigir um acordo confidencial, para evitar que o acerto seja visto como uma troca de presos. Já o Hamas quer o contrário: que os termos do trato sejam anunciados oficialmente.
Enquanto não surge uma saída diplomática, as duas partes prosseguem atacando. Ontem seis palestinos foram mortos e os extremistas lançaram mais de dez foguetes contra a cidade israelense de Sderot. Três moradores ficaram feridos.
Funcionários de um hospital de Gaza informaram que o menino Anwar Attalah, de 11 anos, morreu ontem em conseqüência de ferimentos no começo da semana em Beit Hanun, norte da Faixa de Gaza. Ele levou um tiro no peito durante um avanço dos soldados israelenses na área,disseram testemunhas.
Israel invadiu primeiro o sul da Faixa de Gaza, na semana passada, ocupando o desativado aeroporto internacional e áreas nos arredores de Rafah. Capturou na Cisjordânia mais de 60 ministros, deputados e membros do Hamas e passou a bombardear diariamente a Faixa de Gaza. Os principais alvos são instalações e campos de treinamento ligados ao Hamas. Mas a aviação também destruiu pontes e a usina de energia elétrica da Faixa de Gaza, deixando mais de metade do 1,3 milhão de habitantes sem eletricidade. Com a central de eletricidade inoperante, os serviços de tratamento de água também foram afetados.
NOVA FRENTE Desde quinta-feira um grande contingente militar se concentra também no norte da Faixa de Gaza, de onde militantes estavam lançando foguetes contra a cidade israelense de Ashkelon. Ontem, forças israelenses abriram uma nova frente na ofensiva, entrando na Faixa de Gaza pelo leste, perto da travessia comercial de Karni. As tropas, apoiadas pela Força Aérea, trocaram fogo com militantes palestinos perto da área residencial de Shajaiyeh e várias pessoas ficaram feridas, disseram testemunhas.