Título: Para IBGE, câmbio é principal âncora da queda de preços
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2006, Economia, p. B3
Os resultados do IPCA em junho mostram que "há uma robustez na estabilidade de preços na economia", na avaliação da coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos. Ela argumenta que, ainda que a deflação significativa de junho (-0,21%) esteja vinculada à queda nos preços dos combustíveis, "muitos outros itens se mostraram relativamente estáveis ou com pequenas quedas de preços".
A deflação foi puxada pelos combustíveis. O álcool, com redução de 8,77% nos preços, teve o principal impacto na queda do índice, seguido da gasolina, com -1,60%. Os produtos alimentícios também mostraram forte deflação, com recuo de 0,61% puxado por produtos importantes na despesa das famílias como tomate (-18,70%), batata inglesa (-10,55%) e feijão carioca (-10,20%).
"O Brasil entrou numa fase de completa desindexação, colhendo os frutos de um câmbio muito favorável", avalia Eulina. Para ela, as pessoas estão sentindo uma maior segurança de que os preços estão controlados. Este momento de estabilidade da inflação em baixo patamar resulta, segundo a economista, da boa safra agrícola deste ano (118 milhões de toneladas) e, especialmente, do dólar favorável. "O dólar tem sido o principal instrumento para a estabilidade da inflação, com auxílio muito grande da safra."
O economista da Unicamp Edgard Pereira concorda que "a inflação no Brasil é câmbio". Ele avalia que a chamada cultura inflacionária sempre foi um "instrumento racional" de proteção dos agentes econômicos diante da fragilidade da moeda, que começa a deixar de existir. "Essa cultura não era a causa da inflação, mas seu efeito."
O preço do álcool acumula queda de 18,95% no segundo trimestre, após reajuste de 58,7% entre julho de 2005 e março deste ano. A queda recente nos preços do produto é conseqüência, segundo Eulina, da comercialização da safra da cana-de-açúcar e do recuo da demanda por causa do aumento de preços no início do ano e da redução da mistura, de 25% para 20%, com gasolina a partir de março.
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