Título: 'Você quer ir para onde de Varig?'
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2006, Economia, p. B4

Os poucos vôos que continuam sendo realizados pela Varig estão levando, majoritariamente, passageiros que converteram milhas ou adquiriram passagens bem antes do agravamento da crise. O Estado ligou para uma dezena de agências de viagem, médias e grandes, dos segmentos turístico e corporativo, e todas informaram ter deixado de vender passagens da Varig nos últimos meses.

" Os vôos estão no sistema de reservas , mas não podemos vender algo que o cliente não sabe se e quando vai voar", afirma o agente Léo Couto, da Soft Travel, que deixou de vender passagens há um mês.

Além dos transtornos para os clientes, as agências temem ter de arcar com o prejuízo, como ocorreu quando a Transbrasil parou de voar, em dezembro de 2001. A Student Travel Bureau desde meados de junho não vende passagem da companhia. A Submarino Travel fez o mesmo há três meses.

Na consulta às agências, alguns agentes de viagem ficaram espantados ao ouvir o interesse por passagens da companhia. "Você quer ir para onde de Varig?", reagiu um atendente. O máximo que se consegue com os agentes de viagem, quando se quer adquirir uma passagem da Varig, é o telefone de reservas da companhia.

"O cliente não procura, a gente não oferece", diz o agente Pedro Henrique Garcia, da Blue Travel. No entanto Garcia conta que vendeu um bilhete de Varig esta semana, mas era uma emergência, para embarcar no dia seguinte. "A oferta está minúscula em relação à demanda e foi a única companhia que ainda tinha alguns assentos no vôo de Londres. Mesmo assim, não eram muitos."

Outro indicador de que a Varig tem vendido muito poucas passagens nas últimas semanas é o fato de os vôos estarem com taxa de ocupação muito baixa em relação ao resto do mercado. Apesar de contar com pouco mais da metade dos assentos que tinha há um ano, a Varig está voando com 63% de ocupação, enquanto TAM e GOL, que vêm aumentado expressivamente suas frotas, exibem 78% de participação.

Só para a Europa, a empresa reduziu de oito para três vôos diários , e mesmo assim não estão lotados. "Se a Varig parar hoje, o impacto será muito pequeno", avalia o consultor Paulo Bittencourt Sampaio. "Já passamos pela fase mais temida, a Copa do Mundo. Quase não há passageiro para reclamar."

A Anac informou que a Varig pode continuar vendendo passagens normalmente, exceto para vôos cancelados.