Título: Israel já fala em ampla invasão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2006, Internacional, p. A11

Israel prosseguiu ontem com os bombardeios no Líbano, concentrando-se nos bairros xiitas de Beirute, Baalbek, Tiro e Hermel e em povoados do sul do país, onde essa comunidade é majoritária e o grupo islâmico libanês Hezbollah mantém suas bases. Pelo menos 12 libaneses morreram ontem.

Já o Hezbollah lançou mais de 40 foguetes contra o norte de Israel, sem causar vítimas. Em visita à região atingida pelos projéteis, o ministro da Defesa, Amir Peretz, levantou a possibilidade de uma ampla ofensiva terrestre no sul do Líbano para impedir o Hezbollah de continuar disparando. Milhares de soldados já operam em território libanês perto da fronteira, à procura de túneis onde estariam foguetes e militantes do grupo, segundo o diário israelense Haaretz.

À noite, o comando militar se reuniu para definir a extensão da operação por terra. De acordo com o correspondente da Associated Press na região, o governo parece ter decidido ser necessária uma invasão em larga escala para empurrar o Hezbollah para uma distância de uns 30 quilômetros da fronteira. Com isso, seria criada uma nova "zona de segurança" no sul libanês, como a que Israel manteve por 18 anos, até retirar-se do país em 2000.

"Não temos nenhuma intenção de ocupar o Líbano, mas não vamos deixar de adotar nenhuma medida que seja necessária", disse Peretz. A declaração reforça os indícios de que Israel vai lançar a operação terrestre, que no momento se resume a incursões de curta duração no território libanês. Na quarta-feira, os militares pediram à população do sul do Líbano que deixe a região.

A crise começou depois que o H ezbollah invadiu território israelense, no dia 12, e capturou dois soldados. Para soltá-los, o grupo exige a libertação de centenas de libaneses, palestinos e outros árabes detidos em Israel. O país iniciou, então, o bloqueio do Líbano por ar e mar, inutilizou o aeroporto de Beirute e bombardeou a estrada principal para Damasco.

Tropas de Israel e a milícia do Hezbollah entraram ontem em feroz combate num povoado libanês perto da fronteira. Pelo menos dois militantes do Hezbollah e dois soldados israelenses foram mortos.

Em nove dias de conflito morreram 312 libaneses e 31 israelenses. Mais de mil pessoas ficaram feridas. Pelo menos 500 mil libaneses deixaram suas casas em busca de refúgio nas montanhas ou no exterior.

Hoje de madrugada (horário local), dois helicópteros Apache de Israel se chocaram no norte israelense, perto da fronteira do Líbano, quando se preparavam para operações de bombardeio em território libanês. Militares disseram que os quatro ocupantes ficaram feridos. A TV árabe Al-Jazira, do Catar, informou, sem citar fontes, que todos morreram.

A ameaça de invasão israelense por terra provocou a primeira manifestação oficial do Exército do Líbano, que até agora não reagiu aos bombardeios e incursões terrestres de Israel. O ministro libanês da Defesa, Elias Murr, afirmou que se houver invasão suas forças vão entrar no conflito. No entanto, na maioria dos ataques anteriores de Israel, incluindo as invasões de 1978 e 1982, o Exército não se envolveu nos embates, travados pelo Hezbollah e outras milícias. Desde o fim da guerra civil libanesa (1975-1990), o Hezbollah - que integra o governo do Líbano - controla uma ampla região no sul libanês.

Um dia depois de Israel ter despejado 23 toneladas de bombas em seu suposto bunker em Beirute, o líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, reapareceu ontem em público para reafirmar as exigências do grupo. "Mesmo se o universo inteiro vier (pressionar o Hezbollah), isso não trará de volta os soldados israelenses, a não ser por meio de negociações indiretas e troca de presos", disse Nasrallah à TV Al-Jazira.

O governo israelense calcula que a campanha de bombardeios destruiu 50% da capacidade militar do Hezbollah. Nasrallah ironizou essa afirmação, definindo-a como 'nonsense".

PALESTINOS

Na Faixa de Gaza, Israel continua com os bombardeios e incursões terrestres iniciados depois que a ala militar do grupo islâmico Hamas e outras organizações radicais capturaram um soldado israelense, dia 25. Ontem, o Exército matou dois militantes palestinos num campo de refugiados. Mais de cem palestinos, incluindo militantes e civis, foram mortos desde o início da crise.