Título: Megaoperação vai resgatar 1.300 brasileiros
Autor: Eduardo Salgado
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2006, Internacional, p. A12

O Itamaraty começa hoje uma megaoperação para retirar cerca de 1.300 brasileiros da região do conflito no Oriente Médio. Ônibus fretados pelas Embaixadas do Brasil em Beirute, no Líbano, e Damasco, na Síria, serão levados para a cidade de Adana, no sul da Turquia. É lá que funcionará o núcleo de apoio aos brasileiros que estão fugindo da escalada da crise. Está programada para hoje, às 7h30 (horário local), a saída de três ônibus do prédio do consulado brasileiro em Beirute.

Durante o trajeto até a fronteira norte, os veículos serão escoltados pela força militar libanesa. Em Tel-Aviv, a embaixada brasileira comunicou às autoridades israelenses os planos de retirada. Entre hoje e domingo, ônibus fretados pela embaixada em Damasco terão como missão entrar em território libanês no Vale do Bekaa, resgatar cerca de mil brasileiros que se encontram lá isolados, voltar para a Síria e partir rumo à Turquia.

Esse será o caminho dos veículos que a partir de sábado vão transportar 200 brasileiros que já estão em Damasco. Até ontem à noite, diplomatas brasileiros na região corriam contra o relógio para acertar os detalhes finais do plano. Desde domingo, 200 brasileiros já foram transportados para a Turquia e de lá 89 - 4 deles libaneses naturalizados - voltaram para o Brasil a bordo do Sucatão, o ex-avião presidencial.

Muitos dos brasileiros em Beirute estão em dúvida sobre o que fazer. Sair do Líbano por conta do governo brasileiro é vantajoso, contando que muitos taxistas já estão cobrando até US$ 1 mil para chegar à fronteira com a Síria. O problema, dizem alguns brasileiros, é o depois. Quanto tempo terão de ficar na Turquia? Quem pagará o hotel? E a passagem de volta para o Brasil?

A curitibana Fauzie Fauaz, empresária de 42 anos, faz justamente essas perguntas. Ela, a mãe e a filha, Gihan, têm passagem com saída do aeroporto de Beirute, destruído pela aviação israelense. A empresa, Middle East, diz que não tem culpa, que a pista não tem condições de uso, conta Fauzie. Ela mesma não queria sair, mas foi convencida pela filha. "Já abusei um pouco da sorte e não vou pagar para ver ficando aqui."

CLIMA TENSO

Nas embaixadas e nos consulados brasileiros no Líbano e na Síria, funcionários e diplomatas trabalham sem parar. O que até há três semanas era um ambiente cordial se transformou em um clima tenso, parecido com o das ruas, o que era de se esperar.

As conversas geralmente acabam em um tom de voz acima da média. Ninguém tem tempo a perder. Muitos até dormem no trabalho. A continuar o agravamento do conflito, essas condições não devem mudar. Mesmo que a retirada que começa hoje tenha pleno sucesso, restarão, no mínimo, outros mil brasileiros na região.