Título: Para BBC, Jean Charles foi morto em ação impetuosa
Autor: Antonio Gonçalves Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2006, Internacional, p. A13

Jean Charles de Menezes, o eletricista mineiro morto por engano durante uma operação militar antiterrorista há um ano, no dia 22 de julho, em Londres, será lembrado hoje pelo canal GNT, que exibe, às 21h, o documentário Assassinato em Londres: o Caso Jean Charles de Menezes (Stockwell: Countdown to Killing), produzido pela BBC e apresentado pelo repórter da rede britânica Peter Taylor. Tanto o título brasileiro como o original (Stockwell: Contagem Regressiva para Matar) não deixam dúvida sobre a posição dos realizadores: Jean Charles foi morto pela ação impetuosa da Polícia Metropolitana (Scotland Yard) de Londres, responsabilizada pela operação que executou o brasileiro com sete tiros na cabeça e um no ombro. O documentário mostra que não havia motivo para os policiais agirem da forma violenta como a operação Kratos foi conduzida. Seguido por agentes à paisana, Jean Charles não teria demonstrado nenhuma atitude suspeita ou representado perigo, defendem os realizadores do documentário.

Não foi só a identificação de Jean Charles que falhou - ele foi confundido com o terrorista Osman Hussein, detido na Itália após os atentados ao metrô londrino em 21 de julho, um dia antes da morte do brasileiro. Segundo o documentário, os agentes da Scotland Yard deveriam aguardar a autorização para atirar, vinda da responsável pela Operação Kratos, Cressida Dick. Isso não aconteceu. Ao que tudo indica, o rádio de um dos agentes teria falhado no subterrâneo e eles agiram por impulso.

O documentário também fica com a versão que mostra o brasileiro entrando calmamente na estação de Stockwell e pegando um exemplar do tablóide distribuído no metrô, além de passar o bilhete pela catraca (seqüência reconstituída conforme a fita do circuito interno de TV). Na versão dos policiais, ele teria se recusado a cumprir a ordem para não entrar na estação, pulado a catraca e corrido para alcançar o trem, sendo perseguido e morto.

Como o programa Linha Direta, transmitido pela Globo, o documentário faz a reconstituição da tragédia, entrevista os envolvidos, os pais do morto, mas vai além, colocando em xeque a política de segurança adotada pela polícia britânica. Acusa a Scotland Yard de usar armamento proibido pela Declaração de Haia (os policiais usaram balas dundum, que se expandem e estilhaçam no corpo da vítima).

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