Título: Sócio da Volo, Lap Chan atingiu seu objetivo: comprar a Varig
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2006, Economia, p. B3

Comprar a Varig se transformou quase em uma obsessão para o chinês Lap Wai Chan. Sócio minoritário dos americanos David Matlin e Mark Patterson no fundo de investimentos Matlin Patterson - que comprou a Varig em sociedade com a VarigLog - Lap não saia do Brasil nos últimos tempos.

Fluente em português por influência materna, Lap tem 39 anos e mora nos Estados Unidos, mas costuma ser visto com freqüência no Hotel do Frade, em Angra dos Reis. Isso quando não está nas assembléias da Varig ou em intensas reuniões com advogados, trabalhadores e credores. No início, comparecia de terno em gravata às assembléias de credores. Ontem, no leilão, estava bem mais à vontade, de jeans e camiseta.

Antes de se associar ao Matlin Patterson, Lap foi diretor do Credit Suisse First Boston em Hong Kong.

O namoro de Lap com a Varig começou no primeiro semestre do ano passado, ainda na gestão de David Zylberstajn e Omar Carneiro da Cunha. No final de dezembro, em sociedade com o empresário Marco Antonio Audi, com quem criou a Volo do Brasil, o fundo Matlin Patterson arrematou a VarigLog por US$ 42,8 milhões - um valor considerado pequeno, ante um faturamento de R$ 1 bilhão da companhia. A operação foi duramente contestada por trabalhadores, credores e empresas concorrentes, e só foi aprovada no mês passado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Diante das dificuldades e dos riscos envolvidos no negócio, os sócios Matlin e Patterson pensaram em desistir, mas Lap perseguiu sua obsessão. Para Lap, a VarigLog era apenas a porta de entrada. Se a aquisição da subsidiária fosse bem-sucedida, ele partia para a companhia mãe. "É como um bebê. Temos que dar um passo de cada vez. Primeiro a gente entra na subsidiária, que é mais fácil de sanear, aprende a andar, depois a gente entra na Varig", disse certa vez o executivo.

O fundo foi o único a dar crédito à Varig desde a entrada em recuperação judicial, com diversas operações de recebíveis. Chegou a emprestar algo como US$ 150 milhões. E ganhou muito dinheiro. Por diversas vezes, Lap ficou muito próximo de comprar a companhia. Em maio, ele quase fechou o negócio, mas a compra dependia da aprovação da compra da VarigLog pela Anac.

Diante da resistência da Anac em aprovar o negócio - a agência exigia comprovação de que a Volo do Brasil tinha pelo menos 80% do capital nas mãos de brasileiros - e sob o risco de falência da Varig, o governo decidiu adotar um plano B. Surgiu então a idéia do primeiro leilão judicial, realizado em 8 de junho. A Volo não entrou no leilão, vencido pelo Trabalhadores do Grupo Varig (TGV).

Uma semana antes do leilão, Lap conversou com alguns executivos da Varig e declarou: "Aconteça o que acontecer, vocês não ficarão desassistidos". Com o fracasso da proposta do TGV, a proposta da Volo/VarigLog passou a ser a melhor - ou única - alternativa de preservação da Varig. Companhia que o governo, naquela altura, estava decidido a preservar.

Com a ajuda do escritório de advocacia de Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Volo conseguiu, finalmente, aprovar a operação da VarigLog pela Anac. Estava aberto o caminho para Lap adquirir a Varig.