Título: 'Tem de pôr para correr o pessoal da roubalheira'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2006, Nacional, p. A6
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, decidiu apostar todas as fichas na antecipação de uma estratégia mais agressiva de críticas ao adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, disse que a primeira tarefa a ser feita quando for eleito é 'espantar a roubalheira de Brasília'. 'Tem de colocar para correr o pessoal lá da roubalheira, a turma da picaretagem', declarou em sabatina promovida pela Força Sindical em São Paulo. A idéia inicial da campanha tucana era usar o tom bem mais agressivo apenas no segundo turno.
Na Força Sindical, Alckmin insistiu em lembrar aos trabalhadores de diferentes sindicatos 'a corrupção presente' no governo do adversário. 'Não dá para escolher governo com mensaleiro, com sanguessuga. Aí, não vai para frente.' Também criticou a possibilidade de reeleição de Lula, dizendo que 'é um pouco mais do mesmo'. Afirmou que se ele renovar o mandato o Brasil terá pela frente 'quatro anos perdidos'. 'No dia seguinte (do início do eventual segundo mandato) já vão começar a discutir 2010', anotou.
Ao longo dos 45 minutos em que discursou - antes de responder a perguntas -, Alckmin ainda fez críticas à política cambial do governo. Para ele, a 'artificialidade do dólar' prejudica diversos setores e só é boa para os ricos. 'Para quem importa uísque estrangeiro ou quer tomar vinho francês, aí é ótimo.'
Em seguida, voltou a falar da 'falta de responsabilidade' de Lula com a crise. 'Tem de ter responsabilidade. É olho no olho. Tem de assumir. Não tem essa história de não sei de nada, não vi nada, não me falaram nada', insistiu, arrancando aplausos. O ex-governador destacou que o Brasil precisa crescer para gerar emprego e que é necessário reduzir impostos. 'Fico admirado com o candidato (Lula) que dizia que ia gerar 10 milhões de empregos, mas não tem feito nada pela agenda do crescimento', ironizou. E emendou: 'Pela omissão ou até pela ação equivocada, vejam a crise da agricultura, da indústria.'
Também pegou carona nas informações de que 58% das verbas que a Petrobrás destinou para projetos sociais desde outubro passado foram para prefeituras do PT de Lula e de partidos aliados. 'A Petrobrás está sendo usada e abusada, e ela é do povo brasileiro', disse.
DIREITO TRABALHISTA
Alckmin não quis se comprometer com alguns temas polêmicos. Quando a palestra foi aberta para perguntas da platéia, foi questionado sobre a redução de jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. 'Entendo que a redução é uma tendência. Mas essa conquista deve ser dos trabalhadores, dos movimentos de trabalhadores. Vamos trabalhar para fortalecer o movimento sindical e os acordos coletivos', esquivou-se.
Depois de participar do encontro com os sindicalistas, Alckmin deixou São Paulo driblando a imprensa. O candidato gravaria, a exemplo do que fez na madrugada de sexta-feira, cenas para o horário eleitoral gratuito fora do Estado. Um dos lugares que teria visitado seria o Paraná. O vazamento da informação de que ele foi ao Maranhão no fim da semana passada, pegar carona na caravana do Jornal Nacional, da Rede Globo, causou stress entre os coordenadores da campanha.
Apesar da cautela em divulgar os locais para cenas externas do horário eleitoral, o próprio Alckmin confirmou que vai manter a estratégia de mostrar in loco 'as mazelas' do governo Lula. 'Não só as mazelas, mas também as propostas para o futuro do Brasil.'