Título: Procuradores acusam PF de vazar detalhes de operação
Autor: Vannildo Mendes e Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2006, Nacional, p. A9
O procuradores da República Luciano Rolim e José Alfredo de Paula Silva acusaram ontem a Polícia Federal de ter vazado detalhes sigilosos da Operação Mão-de-Obra, que desarticulou em julho uma quadrilha especializado em fraudar licitações em órgãos públicos, entre os quais o Senado, na contratação de serviços de vigilância, limpeza e informática. O vazamento, conforme Rolim, 'teve conseqüências desastrosas para os resultados das investigações'.
Os procuradores afirmam que, à revelia do Ministério Público, a PF avisou com 24 horas de antecedência ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre a realização de busca e apreensão de documentos, computadores e provas materiais na Casa.
A PF também pediu que Renan indicasse um servidor para acompanhar a diligência - que acabou sendo o diretor-geral, Agaciel Maia, cuja sala seria alvo de buscas e apreensões. No dia seguinte, às 6h, Maia já estava postado na porta do Senado aguardando a PF. 'O resultado da busca na sala do diretor-geral foi pífio', disse Rolim. 'Não havia agenda, anotações, processos, nada.'
Os procuradores apontam outros erros da PF. A operação foi comandada pelo delegado Bergson Toledo, ex-superintendente do órgão em Alagoas e amigo de Renan. E mais: o presidente da Comissão Permanente de Licitação do Senado, Demítrius Nicolau, outro acusado no caso, foi quem se encarregou de providenciar a documentação de três contratos de licitação sob suspeita, alvos específicos da operação.
Questionado pelo MP sobre as falhas, o diretor-executivo da PF, Zulmar Pimentel, segundo na hierarquia da instituição, respondeu em detalhado relatório que faz parte da metodologia da PF avisar com antecedência de 24 horas superior hierárquico de órgão vistoriado, desde que não haja indício de envolvimento desse superior com o fato investigado. 'Essa é um a prática inaceitável em qualquer hipótese, até porque não é possível se prever o futuro de uma investigação e saber antecipadamente se um dirigente está envolvido', observou.
Por força do relatório de Zulmar, os procuradores decidiram apurar todos os responsáveis pelo vazamento e checar a participação do diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, e do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no caso.
Lacerda considerou 'intempestivo' e 'estranho' o comportamento dos procuradores, mas disse que vai investigar eventual falha ou atitude criminosa na operação.
Renan Calheiros negou que seja amigo de Bergson e esclareceu que é praxe o dirigente do órgão investigado colaborar com a investigação. Por isso, disse, indicou Agaciel para acompanhar a diligência.