Título: Último torpedo para Ubiratan dizia: 'tô chegando. já ligo'
Autor: Laura Diniz, Rita Magalhães
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2006, Metrópole, p. C1

¿Tô chegando. Já ligo.¿ É essa a última mensagem de texto registrada no celular do coronel da reserva da PM Ubiratan Guimarães, no início da noite de sábado, quando foi assassinado em seu apartamento. O Estado apurou que o ¿torpedo¿ foi enviado pelo celular da delegada da Polícia Federal do Pará Renata Azevedo dos Santos Madi, que telefonou logo depois.

O que ocorreu em seguida é um dos principais focos da investigação sobre a morte do coronel, que comandou o massacre do Carandiru em 1992. Ubiratan tinha dois celulares. A polícia analisa um deles (com 30 mensagens de texto), além de três recados deixados na secretária do telefone fixo do coronel - um deles seria decisivo na elucidação do crime.

Renata foi proibida de falar por seus superiores. Ela contou aos chefes sua versão dos fatos, entregou seu celular para perícia e deve divulgar uma nota hoje. Segundo a ex-assessora política do coronel, Karina Florido Rodrigues, amiga de ambos, ¿eles nunca namoraram¿.

Antes da proibição da PF, Renata contou a Karina que recebeu um torpedo do coronel no sábado à noite, perguntando onde ela estava. A essa mensagem, respondeu: ¿Tô chegando. Já ligo.¿ Quando ligou, Carla atendeu. ¿O Bira está?¿, teria perguntado a delegada. A resposta foi que ele estava dormindo. ¿Ela achou estranho, a Carla perguntou se queria que o chamasse e a Renata disse sim¿, contou Karina.

O coronel teria dito que não havia mandado a mensagem e que ligaria mais tarde. Não ligou. Renata diz que telefonou de novo algumas vezes, Carla atendeu, pôs uma ópera em alto volume e a delegada desligou. Depois, Renata teria desistido.

A mãe de Carla, a advogada Liliana Prinzivalli, disse à polícia, nas duas horas em que prestou depoimento ontem, que a filha atendeu o celular quando Renata ligou e passou para o coronel, que teria se aborrecido. Fontes ouvidas pelo Estado apontam que a discussão teria ocorrido entre Carla e Renata.

MENSAGENS

Em seus últimos dias de vida, Ubiratan enviou entre 10 e 15 mensagens carinhosas para Renata. O nome dela também aparece entre as seis ligações não atendidas no celular do coronel no dia do crime. ¿Oi menina, onde está você? Um beijo¿, ¿Te amo¿, ¿Estou com saudades¿, são alguns dos dizeres dos últimos torpedos trocados entre Ubiratan e Renata. Antecedem a essas, outras mensagens que revelam o interesse e a preocupação do coronel com a destinatária. E, pelos registros do celular, a recíproca era verdadeira.

O perito Ricardo da Silva Salada informou que o celular de Ubiratan tem cerca de 50 mensagens enviadas e recebidas entre os dias 20 de agosto até o dia 9 , data de sua morte. A perícia analisa ainda três mensagens deixadas na secretária eletrônica do telefone fixo da vítima.

Uma delas chama a atenção e, segundo os peritos, pode ser decisiva para esclarecer o crime. Um homem tece comentários sobre a vítima. A polícia depende da quebra do sigilo telefônico para chegar ao interlocutor.

Na tarde de ontem, um dos delegados do caso esteve no Fórum Criminal da Barra Funda para dar entrada no pedido de quebra de sigilo telefônico de Ubiratan, de um dos filhos dele, do chefe de gabinete e de Carla.

Ontem à noite, delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) estudavam com o promotor Carlos Roberto Marangone Talarico o pedido de prisão temporária de Carla. Ela chegou ontem ao DHPP, perto das 11 horas, e seguia prestando depoimento até as 23 horas.

Carla entregou uma lista com o nome de dez inimigos de Ubiratan. Na relação está o nome de um coronel identificado como Gérson, que seria chefe de seu comitê eleitoral. Segundo Liliana, Ubiratan brigou com Gérson uma semana antes do crime e chegou a mandá-lo embora. Depois, desconsiderou a demissão. As demais pessoas são ex-funcionárias da vítima. Carla, que chorou boa parte do depoimento, disse que amava Ubiratan e não teria motivo para matá-lo.

O chefe de gabinete do coronel na Assembléia, Eduardo Anastazi, contradisse afirmações de Carla e de sua mãe. Segundo ele, ela não era próxima dos filhos do coronel, não estava coordenando a campanha à reeleição, não interferia no gabinete e não circulava sempre com Ubiratan.