Título: Só vontade não adianta, alertam economistas
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2006, Nacional, p. A6
Só vontade de crescer não adianta. Essa é a opinião unânime de economistas de várias correntes ouvidos pelo Estado sobre a proposta do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, de tornar o crescimento econômico o objetivo principal de um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais do que uma declaração de intenção, concordam ortodoxos e heterodoxos, é preciso adotar medidas concretas para fazer o Brasil crescer ao ritmo de outras economias emergentes, a mais de 5% ao ano.
'O crescimento é endógeno, não um ato de vontade. Ele é resultado de outras políticas', argumenta Fábio Giambiagi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 'Fixar meta sem ter instrumentos para alcançá-la não motiva o setor privado, porque este percebe que não é mais que uma expressão de desejos e de boa vontade, menos que um boa projeção', diz Roberto Iglesias, ex-secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda e diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes).
'Quando um governo anuncia tal meta, se expõe e será cobrado pelos cidadãos; logo, terá que implementar políticas e práticas para atingir a taxa pretendida', afirma o economista do BNDES José Roberto Afonso, ligado ao PSDB.
Para ele, o problema do governo é não ter uma política econômica efetivamente voltada para o crescimento, com um equilíbrio entre os instrumentos fiscais, monetários, cambiais e de crédito.
As divergências entre os economistas surgem exatamente quando se discute que medidas deveriam ser adotadas para alcançar esse maior equilíbrio. Alguns dizem que a prioridade é a redução do gasto público corrente, que estaria na raiz da alta carga tributária e da falta de investimentos.
Eles também divergem sobre a conveniência de o governo - ou o Banco Central - usar metas de crescimento.