Título: Governo apóia Furlan na defesa do crescimento
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2006, Nacional, p. A6

A defesa de um novo foco para um possível segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - expressa com todas as letras ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan - animou a cúpula do governo e até ex-integrantes do chamado núcleo duro. Em conversa reservada no Itamaraty, Lula disse não ver divergência no governo sobre metas de crescimento.

Questionado sobre a proposta de fixar metas na faixa de 5% a 6% nos próximos quatro anos, o presidente foi evasivo. 'Eu quero até mais, eu quero até mais', respondeu, gesticulando com os braços, em sinal de empolgação. 'Eu só não quantifico as metas para não ficar refém dos números', disse ele mais tarde a um auxiliar, já no Palácio do Planalto.

Na prática, Furlan externou um sentimento geral 'não só do governo, mas também do PT', como constatou ontem o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, cassado pela Câmara no escândalo do mensalão. Em seu blog, Dirceu comentou o dilema de Lula entre ouvir a chamada 'ala desenvolvimentista' do Planalto ou seguir os conselhos do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci - que tenta se eleger deputado federal, depois de violar o sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, segundo a Polícia Federal. Palocci tem alertado o presidente sobre a necessidade de manter o ajuste fiscal por período mais longo.

'Palocci é conhecido por sua obsessão pela estabilidade e por reformas - como, aliás, defendeu nessa semana o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles', destacou Dirceu. 'Qual será a decisão de Lula? Espero que seja clara e diretamente pelo crescimento, já que, como ele mesmo diz, as bases estão assentadas.'

Até agora não se sabe como o presidente fechará a conta que prevê mais gastos sociais, menos impostos e mais investimentos, caso seja reeleito. Lula ficou contrariado com o pífio crescimento do PIB no segundo trimestre, de 0,5%, e tem insistido em que agora é o momento de o País se desenvolver, mas sem guinadas na economia.

'O grande desafio de países como o nosso é, depois de conter a inflação, crescer', disse o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. 'Não é ficar contemplando a baixa inflação como um fim em si mesmo.'

Palocci tem dito que o impacto da queda dos juros no crescimento demora 'de seis a nove meses' e que o horizonte é 'muito favorável' para o Brasil. Para ele, no entanto, a gastança deve ser abolida do dicionário petista e o governo precisa seguir com a agenda de reformas.

'A posição de Palocci é legítima, mas se retrai perante a possibilidade de combinar crescimento com inflação baixa', disse Tarso. 'Ele tem uma concepção econômica cuja dose já foi aplicada na medida adequada e não deve ser repetida.'