Título: PF vai investigar vazamento de operação no Senado
Autor: Vannildo Mendes, Lisandra Paraguassú, Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2006, Nacional, p. A11

A Polícia Federal abriu ontem investigação interna para apurar se houve vazamento de informações que tenham prejudicado a apuração sobre uma quadrilha, especializada em fraudar licitações em órgãos públicos, desarticulada em junho pela Operação Mão-de-Obra. A denúncia de que vazamentos beneficiaram suspeitos no Senado e causaram danos à investigação foi feita pelos procuradores da República Luciano Rolim e José Alfredo de Paula Silva, reabrindo as feridas de uma antiga disputa de poder entre o Ministério Público e a PF, que passaram o dia trocando farpas.

Segundo a PF, avisar com antecedência sobre diligências à autoridade do órgão investigado é praxe, usada nas mais de 280 operações que realizou nos últimos três anos em parceria com o MP, sob supervisão do Judiciário. Delegados disseram que os procuradores são levianos quando tratam o aviso dado ao presidente do Senado, Renan Calheiros, antes da operação, como improbidade administrativa ou prevaricação. A PF vai além, alegando que cumpriu um dever constitucional.

Por nota, a PF ressaltou que indiciou 19 pessoas, mas o MP só apresentou denúncia contra 18. Também repudiou a 'indevida acusação' de vazamento.

Os procuradores reagiram prontamente, classificando de 'desleal' e 'velada' a prática de avisar 24 horas antes a dirigentes de órgãos públicos sobre operações de busca e apreensão. Na seqüência, afirmaram que vão tomar medidas legais para evitar situações semelhantes. 'Essa prática era feita à nossa revelia', disse Rolim. 'Não tínhamos conhecimento, até porque jamais aceitaríamos.'

Acusados de terem levantado o caso por razões políticas, os procuradores devolvem no mesmo tom. 'Não nos curvamos a esse tipo de pressão. Isso nos distingue da Polícia Federal', acusou Rolim.

A crise teve mais um ingrediente - o Senado avisou que vai entrar com uma ação no Conselho Nacional do Ministério Público contra Rolim. Também o diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, encaminhará à Justiça uma ação por danos civis e reparação moral e com uma interpelação contra o procurador. Rolim havia acusado Agaciel e Renan de dificultarem a busca e apreensão de documentos e computadores.

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