Título: Provas do caso Ubiratan podem se perder
Autor: Laura Diniz, Rita Magalhães
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2006, Metrópole, p. C1

O delegado-geral de polícia, Marco Antonio Desgualdo, disse ontem ter cinco provas contundentes para se chegar ao assassino do coronel Ubiratan Guimarães, morto no sábado. Entre elas, o projétil do crime e uma toalha manchada de sangue, encontrada no apartamento da vítima. Mas até agora, após quatro dias, nenhum material coletado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) chegou ao Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica. Os exames podem indicar o autor do crime.

O Estado apurou que, no domingo, peritos recolheram no apartamento de Ubiratan - e encaminharam no mesmo dia à equipe que investiga o caso - a toalha em que estava envolto o coronel, uma outra manchada de sangue, copos, armas, telefones e o projétil do revólver usado no crime. A roupa da advogada Carla Cepollina, que esteve com Ubiratan no sábado à noite, foi recolhida por investigadores na segunda-feira e também não havia chegado ao IC até as 18 horas de ontem.

A notícia de que o material não estava no IC irritou os peritos. Existe a preocupação de que provas possam se perder com o tempo. O delegado Armando de Oliveira Costa Filho, responsável pelo caso, disse não ter enviado o material porque precisava do reconhecimento de algumas peças pela família, o que não é usual.

Um especialista ouvido pelo Estado disse que a demora não é adequada, mas há chance de os exames serem bem-sucedidos. 'Até oito dias, dá para analisar. Quanto antes for enviado, melhor, para se ter mais subsídios para incriminar alguém.'

Perguntado sobre o que pode ocorrer com uma toalha manchada de sangue dentro de um saco plástico, disse que, se o material mofar, perdem-se todas as informações. Em relação aos copos, explicou que, com o tempo, o álcool pode evaporar, mas, se alguma substância foi misturada à bebida, ela pode ser detectada num prazo maior.

Professor do Departamento de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da USP, o médico Júlio Cesar Fontana Rosa explica que os objetos podem ficar guardados por um longo período. 'Isso desde que as provas tenham sido bem colhidas e estejam armazenadas de maneira adequada.' Se essas condições forem desrespeitadas, afirmou, as provas perdem valor e podem até beneficiar o réu.

DEPOIMENTO

Segundo o advogado da família de Ubiratan, Vicente Cascione, um dos filhos do coronel, Fabrício, declarou ontem, em depoimento no DHPP, que a arma do crime é o revólver calibre 38 de Ubiratan, desaparecido desde sábado. 'Há provas de que a bala que o atingiu faz parte de uma munição que só ele tinha.'

O advogado contou que Fabrício pretendia indicar onde a polícia poderia encontrar um projétil de Ubiratan - disparado num local onde houve um tiro de teste - para fazer a comparação. 'Ambos saíram da mesma arma.' Segundo Cascione, 'ninguém entrou armado para atingir o coronel', ou seja, o assassino estava lá dentro.

A polícia informou que a namorada do coronel prestou depoimento das 13 horas às 17h30, mas permanecia no DHPP até as 20 horas. Ela nega a autoria do crime. 'A senhora Carla nos afigura ainda como testemunha', disse o delegado Costa. Além de Carla, foram ouvidos os três filhos de Ubiratan e o chefe de gabinete, Eduardo Anastazi. Os filhos depõem hoje de novo.

Cascione revelou ter ido com a polícia, ontem à tarde, ao apartamento do coronel, para verificar as distâncias entre o aparelho de som, o bar em cima do qual ficava o revólver desaparecido e o telefone. Segundo o Estado publicou ontem, a delegada da Polícia Federal Renata Madi, que trocou torpedos e ligou para o coronel pouco antes do crime, disse que, no segundo telefonema em que falou com Carla, ela teria aumentado muito o volume de uma ópera. Renata, então, teria desligado.

O advogado confirmou que Renata e Ubiratan 'chegaram a ter um relacionamento amoroso', mas não contou detalhes. Perguntado se o casal estava junto até sábado, respondeu que sim. Renata nega.

À noite, o delegado Costa disse que a polícia está 'a dois passos para esclarecer' o caso, mas acha improvável que a investigação termine hoje. Costa pretende ouvir sete pessoas hoje. Segundo ele, a delegada Renata não será chamada para depor porque não é necessário.