Título: Segurança mobiliza 24 mil pessoas para reunião do FMI
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2006, Economia, p. B3

Mesmo para participantes veteranos de grandes eventos internacionais, a organização e o esquema de segurança da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial - ou Cingapura 2006 - impressionam. Mais de 10 mil policiais e outras 14 mil pessoas foram mobilizados para trabalhar no evento, que vai até o dia 20. São esperados cerca de 16 mil delegados e jornalistas de todo o mundo. Ou seja, há mais gente trabalhando do que participando. 'Nunca vi tamanha operação para uma reunião internacional, me parece até um pouco exagerada', disse um antigo funcionário do FMI.

O pico da reunião, que será acompanhada por dezenas de seminários e eventos paralelos, acontecerá entre amanhã e segunda-feira. Ontem, cerca de 150 ônibus circulavam vazios entre o centro de convenções, no complexo comercial Suntec e os hotéis que abrigam os participantes. Cada um com um policial e uma recepcionista. A reportagem do Estado, por exemplo, ao entrar no início da tarde num ônibus rumo ao Suntec, que vinha circulando desde as 7 horas, foi saudada quase com uma celebração. 'O senhor é o nosso primeiro passageiro', disse a recepcionista, uma das centenas de estudantes contratados para o evento. No retorno ao hotel, a mesma reação, por uma tripulação diferente.

O esquema de segurança é gigantesco. Segundo os organizadores, trata-se da maior operação policial montada num evento internacional. Policiais armados estão posicionados ao redor do Suntec e dos hotéis. Algumas avenidas foram interditadas com blocos de concreto e barreiras metálicas. Cães adestrados farejam pedestres. Por isso, ir a pé ao Suntec demanda tempo e muita paciência.

A operação já virou alvo de críticas e polêmica, além de fonte de constrangimento para o Fundo e Banco Mundial. O governo proibiu qualquer protesto em vias públicas e a entrada no país de 28 ativistas que participariam de um Fórum da Sociedade Civil, paralelo à reunião. Segundo a polícia, os banidos haviam se envolvido no passado em 'atividades de distúrbio' em eventos internacionais.

Em protesto, 14 organizações não-governamentais, entre elas Greenpeace e Amigos da Terra, fizeram um abaixo-assinado sugerindo o boicote da reunião. Uma manifestação será realizada na vizinha ilha de Batam, na Indonésia.

Para Cingapura, país com pouco mais de 4 milhões de habitantes, o evento tem importância estratégica. 'Trata-se de um marco histórico para nosso país', disse o primeiro ministro Lee Hsien Loong.

O governo investiu US$ 80 milhões, além de recursos do setor privado. O retorno esperado deve superar os US$ 100 milhões e boa parte será direcionada para a indústria de turismo e setor financeiro. O varejo também pretende faturar. Nos inúmeros shoppings centers da cidade, muitas lojas oferecem descontos para os participantes do Cingapura 2006.