Título: Fórum do Ibas avança pouco nos acordos comerciais
Autor: Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2006, Economia, p. B6

Último evento da diplomacia terceiro-mundista do governo Luiz Inácio Lula da Silva antes das eleições, a Reunião de Cúpula do Fórum Ibas (Índia, Brasil, África do Sul) encerrou-se ontem, após seis horas de discussões, com uma agenda de cooperação mais retórica que prática. O resultado expresso no comunicado final, com 64 tópicos, trouxe posições comuns sobre temas como defesa da energia nuclear para fins pacíficos, condenação aos atos terroristas e insistência pela reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Mas resultou em pouca substância para o fortalecimento, em curto prazo, do comércio e dos investimentos de lado a lado e mesmo para aliviar a diferença entre as taxas de crescimento das três economias. O comércio trilateral alcançou US$ 7 bilhões neste ano e traz como meta US$ 10 bilhões em 2010. Mas as economias mostram graus de vigor bastante distintos. Se o crescimento no Brasil ficou em 2,3% em 2005, a atividade da Índia expandiu-se 7,6% e a da África do Sul, 4,6%.

O presidente Lula mostrou-se à vontade para alardear a 'irradiação regional e a projeção social' das três democracias nas suas regiões e a relevância do papel que 'cabe ao Sul' nos 'principais debates e decisões internacionais'. Eufórico, o presidente destacou 'a dimensão da grandeza' desse encontro do Ibas, sua potencialidade econômica e seu reflexo no fortalecimento da relação Sul-Sul. Depois, atacou os críticos da sua política externa.

'Nosso engajamento no Ibas reflete a prioridade que sempre dei às relações entre países em desenvolvimento', afirmou, na abertura da reunião de cúpula. 'O que queremos, com o Ibas e outras iniciativas, é aproveitar melhor as oportunidades de cooperação Sul-Sul. Isso não quer dizer que o Brasil vá descuidar das relações com o mundo desenvolvido.'

O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, fizeram eco às declarações do anfitrião da Cúpula. 'Aqueles que não têm visão global podem achar que os três países são concorrentes. Mas acabam vendo que há oportunidades para todos', afirmou Mbeki. 'A idéia do Ibas é sem precedente', disse Singh.

O encontro prévio dos chefes de Estado com empresários dos três países e a declaração final do fórum deram a dimensão real da reunião de cúpula capitaneada pelo presidente Lula.

Sem a possibilidade de lançar uma negociação de acordo de livre comércio entre Índia, Mercosul e União Aduaneira da África Austral neste momento, os três líderes preferiram manter os acertos limitados de redução de tarifas e criar um grupo de trabalho para analisar um possível tratado de liberalização.

Foram assinados acordos de cooperação no transporte marítimo e de facilitação das trocas de bens e de energia renovável - dentro da estratégia brasileira de promover o etanol e o biodiesel em países em desenvolvimento.

Um tanto escondido no documento final, no capítulo sobre uso pacífico da energia nuclear, está a possibilidade de cooperação nessa área. Ainda foram firmados acordos de cooperação nas áreas agrícola, de saúde, de ciência e tecnologia, de saúde, de sociedade de informação e desenvolvimento social.