Título: Petróleo em queda
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2006, Notas e Informações, p. A3

Caem, enfim, e com rapidez, os preços do petróleo no mercado internacional - do recorde de US$ 78,69 o barril do tipo Brent, em 6 de agosto, para cerca de US$ 63, nesta semana. A notícia é alvissareira para a economia mundial e para o Brasil, pois reduz as incertezas dos consumidores, as pressões inflacionárias e, portanto, os riscos de novo aumento de juros básicos nos EUA.

Ao contrário da histeria altista visível até o início do mês passado, quando analistas não descartavam o risco de o óleo bruto chegar a US$ 100 o barril, os mais otimistas, agora, acreditam que a tendência de queda deve prosseguir. Para a economia norte-americana, a diminuição dos preços do petróleo atenua o impacto negativo do aumento do déficit comercial - que de US$ 64,8 bilhões, em junho, subiu para US$ 68 bilhões, em julho.

No último mês, os preços da gasolina negociados no mercado futuro caíram 30%, enfatiza o relatório sobre o mercado de petróleo divulgado terça-feira pela Agência Internacional de Energia (IEA). A queda foi muito mais rápida do que a do óleo bruto, estimada entre 6% e 18%, conforme o tipo.

O recuo dos preços da gasolina foi justificado pela IEA por três fatores: o aumento do refino, o nível de estoques - os mais altos dos últimos cinco anos - e a certeza de que a mistura de etanol na gasolina permitirá uma redução dos preços dos combustíveis.

Além disso, segundo a IEA, a demanda de petróleo em 2006 terá uma redução de 100 mil barris por dia em relação às projeções anteriores. E as estimativas para 2007 apontam para uma nova diminuição da demanda, da ordem de 160 mil barris por dia.

O ritmo mais lento de crescimento da economia norte-americana favorece o reequilíbrio entre a procura e a oferta de petróleo. Em agosto, os membros da Opep, incluindo o Iraque, produziram 30,04 milhões de barris por dia. A produção foi ligeiramente inferior à de julho, mas há capacidade ociosa estimada pela IEA em 2,77 milhões de barris/dia. Em reunião realizada segunda-feira, a Opep - cujos membros detinham, no primeiro trimestre, reservas cambiais superiores a US$ 900 bilhões - decidiu manter o nível de produção, independentemente do recuo dos preços, marcando para dezembro uma nova avaliação conjuntural.

Há outras boas novas. A British Petroleum anunciou que retomará até outubro a operação integral do Campo de Prudhoe Bay, no Alasca, responsável pelo suprimento de 8% do óleo bruto consumido nos Estados Unidos. E a Rússia anunciou que produzirá tanto quanto o maior produtor atual, a Arábia Saudita, responsável, segundo o relatório da IEA, pela oferta de 9,35 milhões de barris/dia, em agosto.

Com a prudência usual, os analistas da IEA observam que ainda não podem concluir se está terminando a era do bull market para o petróleo, ou se se trata apenas de uma pausa e os preços voltarão a subir. Há fatores reais que influenciam os preços, como o ritmo do crescimento mundial, a pressão nos mercados do diesel e do querosene de aviação, os perigos potenciais de novos furacões (vistos como menores pela IEA) e os riscos geopolíticos (tidos como elevados). A transparência, segundo a IEA, é recomendada para reduzir ainda mais as incertezas e permitir preços menores.

Analistas brasileiros são ainda mais otimistas. 'Só um furacão, uma catástrofe climática, ou mesmo uma decisão política radical de algum grande produtor membro da Opep modificaria o rumo' (de queda), observou o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, Adriano Pires. O ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) David Zylbersztajn chega a prever que o preço do petróleo poderá cair para menos de US$ 50 o barril até o fim do ano.

Preços em queda no mercado internacional evitarão reajustes da gasolina e do diesel, no Brasil, como se previa para depois das eleições de 1º de outubro. E, como os preços da nafta e do querosene de aviação acompanham as cotações mundiais, os setores petroquímico e aéreo - e seus consumidores - poderão ser beneficiados. A queda dos preços do petróleo, portanto, terá um efeito positivo para a economia do País.