Título: Lula diz que não fará 'bravatas' para ter ganhos eleitorais
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2006, Economia, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou ontem que não vai explorar eleitoralmente a crise envolvendo a Petrobrás e a Bolívia, fazendo 'bravatas' contra o país vizinho. Ele espera que as coisas fiquem 'mais tranqüilas' com a saída do ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Solíz Rada.

Lula afirmou que 'tem a maior paciência do mundo', que 'quer tudo acordado, com a maior tranqüilidade', mas mandou um aviso aos bolivianos: 'Essas coisas têm limite. Se não houver da parte do governo boliviano interesse de fazer as coisas tranqüilas como quero fazer, então, o que vai acontecer? Um rompimento? Eu não quero que isso aconteça. Trabalho com a hipótese de que a América do Sul tem de se desenvolver e que os países da América do Sul que têm fronteira com o Brasil tenham chance.'

Lula evitou comentar os novos ataques à Petrobrás, que foi acusada de fazer exportação irregular. 'O Brasil tem mais responsabilidade por ter maior economia e por isso eu nem sempre posso responder como algumas pessoas gostariam que eu respondesse, com bravata, com grito, com rompimento', disse. 'Toda vez que um presidente deixa de funcionar como estadista e começa a pensar eleitoralmente, não dá certo.'

O presidente comentou as cobranças por tratamento mais rigoroso com a Bolívia. 'Não tem nenhum sentido. Eu sei do que a Bolívia precisa, sei da situação do povo boliviano. Então, se eu puder ajudar, eu ajudo.'

O presidente insistiu que tem conversado com Evo Morales, que não quer negociar pelos jornais e que no caso da Bolívia, 'não adianta ficar nervoso'. Mais uma vez justificando a atitude de Evo, Lula reconheceu que 'temos um problema político na Bolívia, um governo muito heterogêneo, com problema de auto-afirmação interna, que a gente precisa ter paciência no trato com as pessoas'.

Lula, que deu as declarações antes de deixar Aracaju, onde esteve em campanha, reiterou que não vai endurecer. 'Como eu conheço aquele país, conheço aquele povo, conheço quem está no governo, por que haveria de engrossar se posso encontrar uma solução negociada?'

Repetindo o tom professoral e paternal em relação à Bolívia, Lula recomendou que 'o melhor caminho' para o país é atrair capital estrangeiro. 'Tenho preocupação com o Paraguai, com a Bolívia, porque são países mais pobres e menores que estão participando da comunidade sul-americana de nações. E se a gente não ajudar esses países, eles sempre serão os primos pobres do Mercosul e sempre estarão nos trazendo problemas.'

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