Título: Suspeitos de comprar dossiê atuam no comitê de Lula
Autor: Lisandra Paraguassú, Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2006, Nacional, p. A6

As investigações iniciais da Polícia Federal e do Ministério Público sobre o dossiê Vedoin envolvem diretamente um grupo de dirigentes do comitê da campanha à reeleição do presidente Lula. Além das suspeitas sobre o comitê, a queda do assessor presidencial Freud Godoy revelou uma ponte entre o Planalto e os operadores da campanha.

Gedimar Passos é o personagem central da ligação do comitê de campanha com o escândalo do dossiê Vedoin. Tanto Freud como o presidente do PT, Ricardo Berzoini, confirmaram ontem que Gedimar, advogado e ex-agente da PF lotado no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), é funcionário do Diretório Nacional do PT, trabalhava na campanha de reeleição de Lula e integrava um núcleo conhecido como 'dispositivo de tratamento de informações', que vem a ser a área de inteligência do comitê.

Gedimar foi preso em flagrante, em um hotel de São Paulo, ao lado de Valdebran Padilha, petista, ex-tesoureiro da campanha municipal de Alexandre César (PT) à prefeitura de Cuiabá, em 2004.

Os dois estavam com R$ 1,75 milhão no quarto do hotel, mas não souberam justificar a origem do dinheiro que, segundo a PF, serviria para comprar um dossiê encomendado ao empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam e chefe da máfia dos sanguessugas, desbaratada em operação policial.

O dossiê seria usado para tentar relacionar candidatos tucanos ao esquema de venda de ambulâncias superfaturadas.

No depoimento à Polícia Federal, Gedimar disse que foi ele quem recebeu R$ 1 milhão, do R$ 1,75 milhão apreendido, das mãos de um homem chamado 'André', que chegou num táxi, na manhã de quinta-feira passada, ao estacionamento do Hotel Íbis, em frente ao aeroporto de Congonhas.

NEGATIVA

Nas entrevistas concedidas ontem, Berzoini e Freud revelaram outro elo da campanha com o escândalo do dossiê. O presidente do PT confirmou que Gedimar era subordinado ao petista Jorge Lorenzetti (leia reportagem abaixo) no comitê eleitoral.

Freud disse que foi apresentado por Lorezentti a Gedimar e que os dois se encontraram quatro vezes, mas negou qualquer envolvimento com a compra do dossiê.

Por conta do envolvimento direto desses personagens, o Ministério Público e a PF estão direcionando as investigações para a suspeita de que houve uma operação envolvendo representantes do PT, do governo e do comitê de reeleição na compra das informações do chefe da máfia dos sanguessugas.

Além de Freud, Gedimar e Lorenzetti, a PF também investiga o ex-subsecretário da Casa Civil Marcelo Barbieri. Segundo revelou o dono da Planam, ele teria sido um do elos entre PT e Vedoin. Barbieri é coordenador da campanha de Orestes Quércia (PMDB) ao governo.