Título: Chirac defende reduzir pressão sobre o Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2006, Internacional, p. A18
O presidente da França, Jaques Chirac, defendeu ontem que as grandes potências façam uma concessão ao Irã que possibilite uma saída para o impasse nas discussões sobre o programa nuclear do país. Chirac pediu que, durante a negociação com o governo iraniano, as potências ¿renunciem a levar o caso ao Conselho de Segurança (CS) para a imposição de sanções e que o Irã abandone o enriquecimento de urânio¿.
Chirac comentou a questão durante entrevista à rádio Europe 1. ¿Não creio em soluções que não impliquem o esgotamento da via do diálogo¿, afirmou ele, acrescentando que ¿nunca¿ é favorável a sanções, por elas serem ineficientes.
É a primeira vez que um líder europeu propôs que a suspensão do enriquecimento de urânio deixe de ser condição prévia para o início das negociações com o Irã. Suspeita-se que o país tenha um plano secreto para fabricação de bombas. O enriquecimento de urânio pode ser usado tanto para fins pacíficos, como a produção de energia.
O chefe da diplomacia européia, Javier Solana, anunciou ontem que se reunirá esta semana em Nova York com o negociador iraniano, Ali Larijani. A posição oficial dos seis países encarregados das negociações - EUA, Grã-Bretanha, China, Rússia e China ( com poder de veto no CS), mais a Alemanha - é que o Irã deve interromper primeiro o enriquecimento de urânio, para então negociar.
Na Inglaterra, o anúncio da proposta de Chirac surpreendeu a diplomacia. Em sua edição desta terça-feira, o jornal Financial Times revela que o governo ficou ¿aborrecido¿. ¿O Reino Unido teme que, ao aceitar um acordo iraniano antes de ter sido apresentado com clareza, a comunidade internacional pode ter se enfraquecido, reduzindo as reais chances de um acordo¿. Já o Times anunciou a decisão de Chirac como uma iniciativa da França de ¿abandonar¿ os demais países ocidentais nas negociações.
O vice-presidente do Irã, Gholam Reza Aghazadeh, ameaçou ontem, durante conferência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), limitar a cooperação com o organismo caso o país sofra sanções. ¿Qualquer ação hostil do CS da ONU levaria a uma limitação da cooperação com a AIEA¿, disse Aghazadeh.
O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, disse ontem que não pretende acelerar as negociações, que ¿continuam, e não vejo razão para que tenhamos mais pressa¿.
Na sexta, o presidente George W. Bush disse que os EUA manterão a pressão sobre o Irã. Para Bush, os iranianos tentam apenas ganhar tempo. A Alemanha também adotou postura mais dura em relação ao Irã com a chegada de Angela Merkel ao poder, em novembro. Ela já afirmou que é preciso deter o Irã antes que o país desenvolva uma bomba. Merkel comparou o caso com a ascensão do Nazismo, nos anos 1930. ¿Agora vemos que em certos momentos devíamos ter agido diferente¿, disse, para defender a intervenção no caso. Rússia e China, porém, opõem-se às sanções. O tema será discutido na assembléia geral da ONU, nesta semana.