Título: Brasil à frente do ranking da AL
Autor: Ana Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2006, Negócios, p. B16

As empresas brasileiras foram consideradas as mais competitivas entre as pequenas empresas da América Latina. Na pesquisa Latin America Business Monitor, realizada pela empresa UPS em parceria com o Instituto TNS Gallup, 49% dos entrevistados, de cinco países latino-americanos, disseram que as pequenas e médias empresas brasileiras são mais competitivas que as do México, Costa Rica, República Dominicana e Argentina.

A pesquisa foi realizada com empresas até 200 funcionários destes países mais o Brasil, e mostrou também que o País foi apontado por 72% dos entrevistados como o que tem maior possibilidade de crescimento e o país que deve exercer mais influência sobre a região nos próximos anos.

'Esse reconhecimento vem da grande criatividade e da maneira de trabalhar voltada para resultados que os brasileiros têm', diz Pablo Magallanes, presidente da UPS para a América Latina.

Porém, ao analisar quesitos específicos, outros países se destacaram. O Chile foi apontado como o de empresários mais confiáveis, além de competentes. 'Os outros países reconhecem, ao ver os produtos brasileiros, que aqui existe muita qualidade e competitividade', diz o diretor da consultoria Brasil-Export, Moacyr Bighetti. 'Mas enquanto os chilenos estão acostumados a vender para o mundo todo, o Brasil não tem tradição exportadora.'

OS MELHORES

Os empresários brasileiros também foram os únicos a se posicionarem como os melhores em todos os quesitos analisados. Nos outros países, houve menção às pequenas empresas dos outros países (ver quadro ao lado). 'Acho que isso se associa com essa falta de cultura exportadora, com a falta de viagens técnicas', diz Bighetti. 'O Brasil está muito acostumado a esperar os compradores virem até aqui, não a ir buscá-los lá fora. Fazemos pouco contato, mesmo com nossos vizinhos.' Magallanes, da UPS, também considerou a auto-estima brasileira um pouco exagerada. 'Me pareceu falta de auto-crítica. Os empresários precisam ter em mente que todo dia se deve estar à frente, buscando a liderança, e não acreditar que já estão fazendo o melhor que podem.'

Atualmente, cerca de 15 mil empresas de micro, pequeno e médio porte são exportadoras no Brasil - dentro de um universo de 5 milhões de empresas. São minoria, mas para Bighetti, as empresas que possuem estratégias para o mercado externo são as que terão mais competitividade. 'Elas ganham em escala, eliminam o efeito sazonal de vendas e a equipe fica mais qualificada por lidar com públicos exigentes. Acho que, no mercado global, daqui 15 anos não haverá espaço para empresas que não se internacionalizarem.'

Foram justamnete as empresas exportadoras que se mostraram mais otimistas em relação ao futuro, na pesquisa da UPS. Enquanto 77% das empresas não-exportadoras têm expectativa de crescimento, este índice sobre para 82% nas exportadoras. É o caso do empresário Evando Weber, diretor comercial da W. Haus, fabricante gaúcha de cachaças que trabalha com adegas e restaurantes finos. Ele possui certificações internacionais e já venceu duas vezes o Hyatt Cachaça Awards. 'Atualmente vendemos para o mercado interno, a Itália, Alemanha e Inglaterra. Se você consegue vender para um país exigente, as portas começam a se abrir nos outros lugares', diz Weber. 'Mas para isso é preciso um trabalho de formiguinha, um produto muito bom. Eles respeitam os produtos brasileiros lá fora, mas se estes produtos não provarem ser muito bons, logo as vendas param.'

A maioria dos entrevistados pela pesquisa apontaram ser mais importante primeiro eliminar barreiras comerciais dentro da própria América Latina do que tentar conquistar novos mercados. Mas dentre os mercados mais cobiçados, a União Européia lidera, seguida pelo Japão e depois os Estados Unidos. 'Hoje há muitas barreiras e competição para se entrar no mercado americano, então os exportadores procuram outros compradores', diz Bighetti.

PROBLEMAS COMUNS

Algumas dificuldades comuns às pequenas empresas brasileiras também foram apontadas pelos outros países. Todos os países colocaram a falta de crédito e a falta de incentivos governamentais como as principais dificuldades para empreender. Mas enquanto os brasileiros dizem que o que mais lhes tira o sono é a situação econômica da empresa, os mexicanos apontaram a situação política das regiões próximas. Para os costariquenhos e dominicanos, a maior preocupação é a flutuação cambial.

O único item em que o Brasil ficou para trás na pesquisa foi na realização de atividades especiais para os funcionários das empresas. Enquanto 97% das empresas argentinas tenta integrar a equipe (com happy hours, comunicação interna, cursos), no Brasil 24% das empresas não faz nada.