Título: Virou 'um mensalama', diz Alckmin
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Nacional, p. A14
'A política agora é um mensalama.' Com o neologismo, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, definiu ontem o quadro político após a denúncia de participação de pessoas próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na venda de um dossiê para envolver os tucanos no escândalo dos sanguessugas. A nova palavra é uma alusão irônica ao caso do mensalão (pagamento a parlamentares por apoio ao governo federal), ocorrido no ano passado, e ao novo escândalo, o dossiê Vedoin. Segundo Alckmin, o que ocorreu, com o uso de dinheiro 'roubado', foi uma 'ação do crime organizado' e é mais um episódio de uma série - que definiu como de 'crimes continuados'.
'Parece um novelo sem fim, um balaio de caranguejos', disse. 'Você puxa um e vem uma lista. Agora tem até assessor do presidente envolvido no mundo triste do submundo da política', comentou, referindo-se a Freud Godoy. 'É muito triste que o Brasil tenha um presidente que não sabe de nada, não ouve nada, que tem assessores ligados ao crime. É uma triste história de fim de governo.'
Ele também cobrou explicações sobre a origem do R$ 1,75 milhão apreendido com os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, presos pela Polícia Federal. 'Quem deu? De onde saiu? A quem se destinava? Essas coisas não acontecem por acaso, não são geração espontânea.' Para ele, assiste-se no Brasil a algo grave: 'É a idéia de que os fins justificam os meios.' Alckmin falou durante a intensa agenda que cumpriu no Rio ontem, com entrevistas à Rede Globo, à Rádio Tupi e caminhadas por São João de Meriti, Nova Iguaçu e Duque de Caxias.
À rádio, ele criticou o presidente Lula por não assumir a culpa pela suposta participação de Freud na negociação do dossiê. 'A primeira coisa é assumir a responsabilidade, mas um governo que tem Ney Suassuna e Jader Barbalho não pode dar certo. Está cercado do submundo da política', disse, numa alusão ao senador Suassuna (PMDB-PB), acusado de envolvimento com os sanguessugas, e o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que foi acusado de desvio no Banpará e na Sudam e em 2001 renunciou ao mandato para evitar um processo no Senado.
Em Brasília, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), acusou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de interferir nos processos para proteger o governo e o desafiou a mostrar as imagens do dinheiro apreendido com Gedimar e Valdebran. 'O ministro tem sempre agido como advogado criminalista de Lula. Não tem isenção. Ele interfere nos processos. Protegeu Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda) com um integrante de seu gabinete', disse.