Título: Na ONU, Bush diz a iranianos que regime é inimigo do povo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Internacional, p. A18
No discurso que fez ontem na abertura da 61ª Assembléia-Geral da ONU, o presidente americano, George W. Bush, fez uma vigorosa defesa de sua política externa e ressaltou que respeita o Islã, mas que protegerá os americanos 'daqueles que o subvertem para espalhar morte e destruição'. Bush dirigiu-se diretamente às populações do Oriente Médio, pedindo apoio à democracia e repúdio ao extremismo.
O ataque mais contundente foi contra o governo iraniano: sem citar em nenhum momento o nome do presidente Mahmud Ahmadinejad, que discursaria horas depois (ler ao lado), Bush afirmou: 'O maior obstáculo para seu futuro são seus governantes que negam a vocês a liberdade e utilizam os recursos de sua nação para financiar o terrorismo, insuflar o extremismo e obter armas nucleares.' Também fez críticas ao governo da Síria, acusando-o de apoiar e financiar o terrorismo internacional.
Membros da delegação iraniana na assembléia assistiram ao discurso de Bush sem mudanças em suas expressões faciais, pelo menos nas cenas transmitidas ao vivo pela TV. Para evitar contato com Bush e seus assessores, Ahmadinejad e os demais delegados do Irã não compareceram ao almoço oficial da abertura da reunião, sob a alegação de que não ingerem bebidas alcoólicas.
Enquanto Bush discursava, milhares de manifestantes protestavam contra a guerra do Iraque nas proximidades do edifício da ONU. O presidente saudou o avanço da democracia em países como os Emirados Árabes, Kuwait e Bahrein. Ressaltou também a realização de eleições na Arábia Saudita, Argélia, Egito, Jordânia e Líbano.
Bush lembrou que, cinco anos atrás, o assento do Afeganistão na assembléia da ONU era ocupado pelo 'brutal regime do Taleban', e o do Iraque, 'por um ditador que assassinou seu povo e invadiu seus vizinhos.' E ressaltou que os povos desses países hoje são representados por governantes legítimos eleitos democraticamente.
'Alguns afirmam que as mudanças democráticas no Oriente Médio estão desestabilizando a região', prosseguiu. 'Este argumento parte de uma premissa falsa: a de que o Oriente Médio era estável antes.'
'Por décadas, milhões de homens e mulheres da região estiveram presos à opressão e à falta de esperança', afirmou. 'E essas condições deixaram uma geração desiludida e fizeram da região um campo fértil para o extremismo.'
O presidente americano também fez um chamado à ONU para que envie tropas de paz, já aprovadas pelo Conselho de Segurança, à região sudanesa de Darfur. O Sudão não aceita a presença das forças da ONU no país.
Falando depois de Bush, o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, apontou outra razão para o crescimento do terror no mundo árabe, numa crítica sutil à política dos EUA para o mundo islâmico: 'Cada campo de batalha que envolve um Estado islâmico serve de terreno fértil para extremistas e terroristas', disse. 'Os bombardeios indiscriminados, vítimas civis, abusos, torturas e insultos dificultam o desafio de derrotar o terrorismo.'
A estratégia de Bush, aparentemente vem dando certo. Em uma semana, a aprovação a seu governo subiu 5 pontos porcentuais. Há uma semana, logo após o lançamento de uma ofensiva para convencer os americanos de que a decisão de invadir o Iraque foi acertada, sua popularidade era de 39%, segundo pesquisa USA Today/Gallup. O mesmo estudo, divulgado ontem, sete semanas antes das eleições legislativas de novembro, ele tem 44% de aprovação.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também fez críticas veladas à guerra no Iraque em seu discurso.