Título: Vaticano lança ofensiva diplomática
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Internacional, p. A19
O Vaticano quer que os países latino-americanos defendam a liberdade de expressão do papa Bento XVI e que, assim, ajudem a Igreja a conter as repercussões do recente discurso do pontífice na Alemanha, considerado ofensivo pelos muçulmanos.
Ontem, Bento XVI voltou a defender o diálogo religioso e o respeito entre os povos, depois de, mais uma vez, condenar toda forma de violência. 'Sua Santidade espera que o sangue derramado por tão fiel discípula do Evangelho se torne semente de esperança para construir autêntica fraternidade entre os povos, no respeito recíproco das convicções religiosas de cada um', diz o texto de um telegrama de pêsames enviado pelo secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, em nome do papa à superiora das Missionárias da Consolata, pela morte da freira Leonella Sgorbati, assassinada na Somália.
A iniciativa do Vaticano na América Latina faz parte de uma ofensiva diplomática lançada nos últimos dias pela Santa Sé para reverter a situação. Na sexta-feira, o Conselho de Direitos Humanos da ONU deve se reunir para debater o assunto. O encontro foi pedido pela Organização da Conferência Islâmica, que reúne mais de 50 países muçulmanos. O Paquistão, falando em nome do bloco, deixou claro que a escolha do papa por um texto sobre o Islã que estabelecia relações entre a religião e a violência foi 'lamentável'.
Em declarações ao Estado, o representante do Vaticano na ONU, arcebispo Silvano Tomasi, revelou que a Santa Sé mobilizou seus 'embaixadores' pelo mundo para tentar reverter a polêmica. 'Estamos pedindo duas coisas basicamente aos governos latino-americanos. A primeira é que defendam o princípio da liberdade de expressão. A segunda é que leiam na integralidade a aula dada pelo papa na universidade alemã que causou esses problemas', afirmou Tomasi.
O primeiro resultado foi o anúncio na segunda-feira da União Européia de um apoio ao pontífice e à liberdade de expressão. O Vaticano espera reunir até sexta o maior apoio possível para que possa ser defendido na reunião da ONU. A Santa Sé, apesar de ser um Estado, é apenas membro observador na ONU e, portanto, não poderia votar caso seja proposta uma resolução sobre o assunto.
Em Roma, o secretário-geral do Centro Cultural Islâmico, Abdalá Raduan, disse que os muçulmanos italianos 'dão o caso por encerrado'. O primeiro-ministro da Malásia, Abdullah Ahmad Badawi, também considerou satisfatórias as declarações conciliatórias do papa.