Título: Exército derruba governo da Tailândia e decreta lei marcial
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Internacional, p. A20

Sem disparar um tiro, o Exército tailandês deu ontem um golpe de Estado contra o governo do primeiro-ministro Thaksin Shinawatra. Tropas entraram à noite na sede do governo e em outros prédios oficiais, além de ocuparem emissoras de TV. A ação foi apoiada por tanques. Em seguida, os golpistas suspenderam a Constituição, o Parlamento, o governo e o tribunal constitucional, e decretaram a lei marcial no país.

Os golpistas, autodenominados o Conselho da Reforma Administrativa, declararam-se leais ao rei, Bhumibol Adulyadej. Segundo um militar de alta patente, chefes das Forças Armadas se reuniram com o monarca minutos após o golpe, para discutir a formação do governo interino. O encontro não foi confirmado pelo porta-voz do rei, que tampouco se pronunciou oficialmente sobre o golpe.

O decreto comunicando a destituição de Shinawatra foi firmado pelo comandante do Exército, general Sondhi Boonyaratkalin, apontado como primeiro-ministro interino. Apesar disso, um porta-voz de Shinawatra insistiu que ele ainda permanecia no cargo. Shinawatra estava em Nova York, para participar da Assembléia-Geral da ONU. Ele cancelou o discurso que faria e decretou estado de emergência no país.

Em um breve discurso na televisão, Boonyaratkalin disse que o golpe foi necessário para acabar com 'sérios conflitos na sociedade, criados pelas políticas de Thaksin'. O general pediu calma à população e afirmou que os golpistas 'devolverão o poder ao povo, sob a monarquia constitucional, o mais rápido possível'.

O golpe militar ocorreu um dia antes do protesto de uma frente de partidos que pedia a saída de Shinawatra por corrupção e abuso de poder.

Empresário multimilionário das telecomunicações, Shinawatra chegou ao poder em 2001 e foi reeleito em 2005. Ele enfrentou protestos no início do ano, após vender uma grande empresa de telecomunicações sem pagar impostos. Em abril, o partido criado por ele em 1998, o populista Thai Rak Thai, venceu as eleições parlamentares, boicotadas pela oposição. Também em abril, Shinawatra foi reconfirmado no cargo, em uma eleição posteriormente anulada. Após o impasse, cresceu a pressão pela renúncia.

Shinawatra tem grande apoio nas áreas rurais pobres. Na elite, porém, é acusado de tráfico de influência em agências do governo. Um obscuro policial até 1987, ele utilizou sua influência em órgãos do governo para estabelecer uma companhia de softwares. Em 1990, obteve uma surpreendente concessão de 20 anos para explorar a rede de celulares do país.

Boonyaratkalin é o primeiro muçulmano a comandar o Ex ército neste país onde o budismo é a religião da maioria. Em parte, sua escolha para o cargo é atribuída como estratégia dos golpistas para enfrentar grupos guerrilheiros separatistas numa região muçulmana no sul do país.

A Casa Branca pediu uma solução pacífica e democrática para a crise. A Tailândia atravessava um período de normalidade desde 1991, ano do último golpe de Estado.

Os mercados financeiros internacionais foram afetados pela instabilidade. Analistas temiam que as crises na Tailândia e na Hungria (ler abaixo) pudessem afugentar investidores de países emergentes. No Brasil, a Bovespa fechou em baixa de 1,64%.