Título: EUA insistem na valorização do yuan
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Economia, p. B3
O novo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, desembarcou ontem na China para a primeira visita oficial e para mais pressões pela valorização do yuan. Um dia antes, o governo americano havia divulgado o déficit em conta corrente de US$ 218,4 bilhões no segundo trimestre, o segundo maior da história.
Só a Província de Xinkiang, por onde Paulson iniciou a visita, vendeu no mercado americano US$ 53,8 bilhões de janeiro a agosto, 29,4% mais que um ano antes. Mas o governo chinês parece preparado para resistir a novas pressões para valorizar a moeda e reduzir o poder de competição de sua indústria.
O último lance dessa disputa, realizado em Cingapura, foi inútil para os Estados Unidos. Empresários brasileiros também agradeceriam se as pressões americanas levassem a um ajuste significativo do yuan.
O presidente do banco central da China, Zhou Xiaochuan, disse que a liberalização do câmbio será sentida com o tempo e que reformas importantes já foram feitas. A mudança começou com a valorização de 2,1% em julho de 2005. Depois disso, o yuan subiu apenas 2,2%, variação considerada insignificante pelos americanos,
Também ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, voltou a pressionar o governo chinês a mexer no câmbio. Segundo ele, o desequilíbrio das contas externas entre os Estados Unidos e o resto do mundo é insustentável e ameaça a prosperidade mundial,
'Há um amplo acordo sobre o que se deve fazer para reduzir esse desequilíbrio de forma ordenada', disse Rato. Segundo ele, os Estados Unidos devem reduzir o déficit fiscal, os europeus e o Japão têm de fazer reformas estruturais e a China 'deve fortalecer seu setor financeiro, impulsionar a demanda interna e usar a flexibilidade cambial que adotou há um ano'.
Paulson disse, em Cingapura, que 'o progresso depende da ação vigorosa de todos' e que os americanos estão fazendo a sua parte. 'Os Estados Unidos estão diminuindo firmemente seu déficit fiscal graças a uma economia forte e ao aumento da receita de impostos.' Analistas projetam um déficit federal equivalente a 2% do Produto Interno Bruto neste ano fiscal,
Mas os desequilíbrios continuarão, acrescentou Paulson, sem reformas estruturais nos principais países superavitários, maior flexibilidade cambial nos emergentes da Ásia (incluindo a China) e maior capacidade de investimento pelos exportadores de petróleo.
A bola foi logo rebatida pelos chineses. Segundo Xiaochuan, o FMI deveria respeitar a autonomia dos países membros na escolha do regime cambial. Sua supervisão deveria apenas garantir que as políticas macroeconômicas sejam compatíveis com os objetivos nacionais e internacionais de estabilidade econômica e financeira.
Além disso, segundo Xiaochuan, o Fundo deveria concentrar a vigilância nos países 'sistemicamente importantes' que emitem as principais moedas, dando atenção a suas políticas econômicas e procurando prevenir a excessiva flutuação de suas moedas. Em outras palavras, é o desequilíbrio americano que põe o mundo em risco.
Paulson deixou Cingapura dizendo que não buscaria, na China, solução imediata para nenhum problema. Mas a questão cambial deveria ser um dos temas da visita.