Título: FMI alerta para onda protecionista
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Economia, p. B3
O fracasso das negociações globais de comércio poderá resultar em nova onda de protecionismo, advertiu ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato.
'Na questão do comércio, o mundo ou irá adiante para maior crescimento e maiores oportunidades, ou para trás, na direção do nacionalismo estreito', afirmou Rato. 'Não devemos ter a ilusão de que haja um meio-termo confortável.'
O diretor do FMI apelou aos países mais industrializados, membros do Grupo dos 7, bem como aos maiores emergentes, para que ajam com rapidez, conservem os avanços conseguidos até agora e ponham a Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), de volta nos trilhos.
CONCESSÕES
O presidente do Banco Mundial (Bird), Paul Wolfowitz, disse que todos precisam fazer concessões para reativar a Rodada Doha. 'Os Estados Unidos precisam aceitar maiores cortes nos subsídios agrícolas que distorcem o comércio', afirmou. 'A União Européia', continuou, 'precisa reduzir as barreiras de acesso ao mercado.'
Também houve um recado para as demais economias: 'Países em desenvolvimento como China, Índia e Brasil precisam cortar suas tarifas sobre manufaturados. Países em desenvolvimento precisam também remover barreiras que dificultam o comércio entre países de baixa renda'.
Rato lembrou que as projeções apontam para uma economia mundial ainda sólida no próximo ano, mas chamou a atenção para três riscos. O aumento do protecionismo é um deles. O continuado aumento do preço do petróleo também poderá criar pressões inflacionárias, se não houver investimentos no setor e políticas de conservação de energia. Permanece também, segundo ele, o perigo de um ajuste desordenado das contas externas dos Estados Unidos e dos países com grandes superávits.
APELOS
Rato e Wolfowitz falaram ontem na primeira sessão plenária da assembléia anual do FMI e do Banco Mundial. Apelos para a reativação da Rodada já haviam sido feitos pelo Grupo dos 24, porta-voz dos países em desenvolvimento, pelo G-7, dos países ricos, e pelo Comitê Monetário e Financeiro Internacional, órgão político de representação dos 184 sócios do FMI.
Todos esses grupos, assim como o Comitê, são formados por ministros de Finanças. Foram seus colegas diplomatas e ministros do Comércio que levaram a Rodada Doha ao impasse. Tanto os ministros de Finanças quanto os de Comércio e de Relações Exteriores servem aos mesmos governos que paralisaram as negociações comerciais.