Título: País deve bater novo recorde no saldo comercial com Mercosul
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Economia, p. B9
O Brasil bateu, no ano passado, o recorde de 1997 de exportações para parceiros do Mercosul e vai na mesma direção este ano, segundo estimativa da economista da Unidade de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Lucia Maduro. Nas projeções da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) só as vendas para a Argentina terão um saldo positivo de US$ 4,5 bilhões, o maior da história com esse país.
A importância do Mercosul para o Brasil foi debatida ontem, em seminário no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Na avaliação do presidente do Cebri, José Botafogo Gonçalves, o País se beneficia do Mercosul, a despeito das críticas ao bloco e ao protecionismo argentino.
Os dados compilados pela economista da CNI, que participou do evento, mostram que as exportações para o Mercosul somaram US$ 11,7 bilhões, ante os US$ 9,050 bilhões de 1997, recorde até então. De janeiro a julho deste ano, as exportações para o bloco já somam US$ 7,6 bilhões, quase 20% acima das do mesmo período de 2005. A variação supera o crescimento médio de 15% das vendas externas brasileiras.
Botafogo chega a dizer que há um 'paradoxo de imagem'. Ele explica que, enquanto internamente existe a visão de que o País vem sendo prejudicado pelo Mercosul, os parceiros comerciais dizem exatamente o contrário e indicam que o Brasil, maior país do bloco, está sendo o mais favorecido pelo acordo.
'O Mercosul deveria ser o núcleo duro da integração na América do Sul', afirmou o presidente do Cebri. Ele também cita que o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC) - nome dado ao mecanismo de salvaguarda exigido pelos argentinos - foi assinado em fevereiro, mas não foi usado até agora.
Para Lucia Maduro, o mecanismo foi bem negociado pelo Brasil, que exigiu provas de supostos danos causados pelas vendas brasileiras, além das negociações 'caso a caso' que o país vem adotando. De forma geral, os especialistas que participaram do seminário 'Desafios da Integração no Hemisfério', na sede do Cebri, criticaram a adesão da Venezuela.
A AEB concorda que o comércio com o Mercosul tem avançado, mas mantém as críticas ao fato de o Brasil estar 'preso' ao bloco. O vice-presidente da AEB, José Agusto de Castro, afirma que o bloco restringe a liberdade de o País fazer acordos com outros países, já que qualquer novo acerto tem de ser aprovado pelos demais integrantes do bloco.
'O mundo todo, com o fracasso da rodada da OMC (Organização Mundial do Comércio), busca acordos bilaterais e nós estamos parados', afirma Castro. Lucia concorda que 'a negociação em bloco é difícil'.