Título: PF identifica bancos de onde foi sacado dinheiro apreendido
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Nacional, p. A4
Graças a uma operação de rastreamento, a Polícia Federal está prestes a desvendar a origem do R$ 1,75 milhão apreendido em poder de dirigentes petistas que serviria para comprar e divulgar na imprensa um dossiê destinado a envolver candidatos tucanos com a máfia dos sanguessugas. A PF descobriu que o dinheiro foi levantado, com o conhecimento da cúpula do PT, por meio de um consórcio de empresas, pessoas e partidos da base aliada do governo.
O rastreamento do dinheiro, a partir das fitas que envolvem os maços, mostra que o montante em reais foi sacado nos Bancos Bradesco, Safra e BankBoston (agora incorporado pelo Itaú). A parte em dólar estava identificada com tarjas do Bureau of Engraving and Printing (BEP), órgão dos EUA equivalente à Casa da Moeda. Não se sabe ainda qual o trajeto dos dólares para chegar a São Paulo.
De acordo com as etiquetas, a parte que estava com o Bradesco pertencia a uma agência de serviços da Barra Funda, em São Paulo. Já o dinheiro do Bank Boston estava identificado apenas como da Lapa, de Caxias e de Campo Grande, sem se saber as cidades de onde poderiam ter sido sacados. A PF trabalha com a possibilidade de o montante da regional da Lapa ser de São Paulo e o restante do Rio. Já a quantia sacada no Safra não tinha identificação de agência
Hoje o Ministério Público e a Polícia Federal tomam novo depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin, sócio da Planam, empresa que comandava o esquema de desvio de dinheiro público mediante a venda de ambulâncias superfaturadas para municípios, com verba de emendas de parlamentares.
A expectativa da PF e do MP é que Vedoin entregue tudo o que sabe e ajude a identificar todos os envolvidos, sobretudo os mandantes, os quais ele até agora vinha preservando, possivelmente na esperança de tirar vantagens, como a que pretendia com a venda do dossiê com denúncias contra políticos tucanos, especialmente o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. 'Agora ele não tem mais nada a perder', observou o procurador da República Mário Lúcio Avelar, que acompanha as investigações.
Para a PF e o MP estão caracterizados crimes comuns e eleitorais no episódio. Avelar explicou que a compra de dossiê para prejudicar adversário político em si não configura crime, a não ser que o dinheiro tenha origem espúria, não declarada e a denúncia seja falsa. 'Por isso é vital rastrear o dinheiro para detectar se houve meios ilícitos para desequilibrar o processo eleitoral', explicou o procurador.
FITAS
No dinheiro apreendido pela PF - R$ 1,16 milhão mais US$ 248 mil - havia pacotes de reais acondicionados com fitas identificadoras do banco. A cédulas eram novas em folha e foram encontradas em ordem numérica. A Polícia Federal pretende concluir esta semana o caso da venda de dossiê anti-Serra e apontar a materialidade e a autoria do crime. Os autos servirão de subsídio para o processo por crime eleitoral, aberto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Esse processo investigará indícios dos crimes de uso de caixa 2, abuso do poder econômico e forjamento de dossiê com provas duvidosas para prejudicar adversário eleitoralmente. Investigações já mostraram que o primeiro R$ 1 milhão, entregue por um tal 'André', no Hotel Íbis, em São Paulo, seria para recompensar os Vedoin pela entrevista à revista IstoÉ.