Título: Trama petista começou em prisão de MT
Autor: Vanice Cioccari
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Nacional, p. A5

A parte final da trama petista para tentar incluir José Serra (PSDB), candidato ao governo de São Paulo, no elenco dos sanguessugas começou a ser executada na prisão.

Foi na sede da Polinter de Cuiabá (MT), há pouco mais de três semanas, que o empresário Luiz Antônio Vedoin, capo da máfia das ambulâncias superfaturadas, recebeu para uma reunião o engenheiro eletricista Valdebran Padilha. Participou do encontro Darci Vedoin, pai de Luiz Antônio, que também estava preso. Luiz Antônio chegou a ser solto e voltou para a Polinter na semana passada, onde está detido por ordem judicial desde que perdeu o benefício da delação premiada.

Arrecadador de campanhas do PT em Mato Grosso - partido ao qual é filiado -, ex-diretor-técnico da Associação dos Municípios Mato-Grossenses (AMM), Valdebran foi preso na sexta-feira passada, acusado de integrar o esquema que tinha como meta maior empurrar Serra para a companhia dos parlamentares e autoridades do Executivo que teriam recebido propina.

A Polícia Federal descobriu que no encontro de três semanas atrás na Polinter Valdebran acertou com Vedoin sua viagem a São Paulo.

Um advogado, ainda não identificado, telefonou para o engenheiro e pediu a ele que fosse visitar os Vedoin, donos da Planam, na cadeia.

Durante a reunião, Luiz Antônio contou detalhes do plano e disse que, 'quando saísse da prisão', iria procurá-lo para que acompanhasse a entrega de 'uma documentação'.

Os papéis, explicou o líder dos sanguessugas, seriam vendidos e o dinheiro levantado ajudaria a 'minimizar problemas financeiros' que os Vedoin estariam atravessando por causa do bloqueio judicial de seus bens.

Depois do encontro na prisão, Valdebran foi avisado que os documentos seriam entregues a 'membros do PT'.

Há cerca de 10 dias, Luiz Antônio - que estava em liberdade em troca da delação premiada - fez novo contato com Valdebran e pediu a ele que fosse a São Paulo 'para verificar se realmente havia o dinheiro'.

No Aeroporto de Congonhas o engenheiro foi recepcionado por Gedimar Passos, ex-agente da Polícia Federal.

No Hotel Ibis, onde se hospedou, Valdebran recebeu de Gedimar uma sacola preta com R$ 1,75 milhão entre dólares e reais. Antes que a Polícia Federal prendesse os dois, na madrugada de sexta-feira, entraram em cena Expedito e Jorge, que se apresentou como chefe de Gedimar - a PF suspeita de Jorge Lorenzetti, churrasqueiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de Expedito Veloso, afastado ontem do Banco do Brasil.

LIBERDADE

No início da madrugada de ontem, Valdebran e Gedimar foram soltos por ordem do juiz Marcos Alves Tavares, da 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso, que acolheu os argumentos dos advogados criminalistas Luiz Antonio Lourenço e Roger Fernandes.

Alegando estar 'completamente duro, sem ter dinheiro para comer', Gedimar pediu carona para um dos advogados de Valdebran, Roger Fernandes. De manhã, o ex-policial federal teria arrumado recursos com amigos para retornar a Brasília, onde mora.

Valdebran voltou para casa, em um condomínio fechado, mas pouco antes do almoço teve que se retirar às pressas, acuado pela vizinhança.

Preocupados com o plantão ostensivo de jornalistas, os moradores praticamente expulsaram Valdebran. 'Caí de gaiato nessa história', ele reclamou.