Título: André Bucar pode ser peça que fecha quebra-cabeça
Autor: Vanice Cioccari
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Nacional, p. A5

A Polícia Federal e o Ministério Público decidiram intimar para depor os petistas Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Expedito Afonso Veloso, suspeitos de envolvimento com a montagem e divulgação do dossiê Vedoin. Deverá ser convocado também o assessor da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, André de Oliveira Bucar. Considerado o braço direito de Bargas quando este era secretário-executivo do ministério, ele deve ser, segundo todos os indícios, o 'André' mencionado nos depoimentos feitos na semana passada por Valdebran Padilha e Gedimar Passos, em São Paulo.

A decisão foi anunciada ontem pela Superintendência da PF em Cuiabá - mas, segundo a assessoria, os três envolvidos cuja intimação já é certa devem se apresentar em Brasília, porque não estão presos e têm prerrogativa de depor no local onde moram.

O delegado Diógenes Curado e o procurador da República Mário Lúcio Avelar, encarregados do inquérito em Mato Grosso, irão a Brasília acompanhar os depoimentos. 'É preciso primeiro ouvir os principais envolvidos para não colocar o carro adiante dos bois e com isso fragilizar o inquérito', disse Avelar.

No caso de André Bucar, a suspeita se deve ao fato de Valdebran e Gedimar terem contado à polícia que 'André' chegou com uma mala contendo R$ 1 milhão ao hotel em que foram presos - seria a primeira parte do pagamento pelo dossiê Vedoin. Homem de confiança desde o início do governo Lula, Bucar é coordenador-executivo do Fórum Nacional do Trabalho, criado para elaborar o Projeto de Emenda Constitucional sobre a reforma sindical.

A PF deve também convocar, em seguida, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini - suspeito de ter dado aval à operação e afastado ontem do comando da campanha do presidente Lula à reeleição. Outro a ser convocado é Freud Godoy, o assessor de Lula no Planalto.

VOLUNTÁRIO

Antecipando-se à convocação, Lorenzetti ligou para a PF e o MP em Cuiabá e se ofereceu para depor. Ele e Bargas, ligados a Berzoini, ofereceram o dossiê à revista Época há um mês, mas o material acabou sendo publicado na revista IstoÉ, na semana passada. A quantia levada por 'André' mencionada no depoimento de Valdebran, ao qual o Estado teve acesso, seria destinada à família Vedoin.

Com base nas provas até agora reunidas, a PF - que vem chamando o episódio de 'Operação Tabajara', pela sucessão de trapalhadas - investiga crimes de lavagem de dinheiro, caixa 2, ocultação de provas e denunciação caluniosa e avalia que já está caracterizado crime de formação de quadrilha. Para fechar o quebra-cabeça falta apurar a origem do R$ 1,75 milhão apreendido com os petistas Valdebran e Gedimar, libertados pela Justiça Federal. 'Foi uma decisão equivocada que causa danos à investigação e vamos tentar revertê-la', disse o procurador Avelar. Ele espera ver os acusados de volta à prisão.