Título: Escândalos vão minando república sindical
Autor: Roldão Arruda, Cley Scholz
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Nacional, p. A10

O escândalo do dossiê Vedoin deixou exposta mais uma vez a forma como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cercou-se de velhos amigos sindicalistas para conduzir o governo. Dois dos principais envolvidos, Oswaldo Bargas e Jorge Lorenzetti, vieram da vida sindical.

O primeiro atuou ao lado de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, nos anos 80. O segundo veio do sindicalismo bancário de Santa Catarina e também esteve ao lado do presidente na montagem da Central Única dos Trabalhadores (CUT) naquele Estado.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, que, segundo informações da revista Época, sabia da articulação do dossiê, começou sua carreira política no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Antes de ser chamado para coordenar a campanha de Lula à reeleição, da qual foi apeado ontem, ele já tinha sido indicado por Lula para a chefia das pastas do Trabalho e da Previdência.

Para onde quer que se aponte é possível encontrar velhos companheiros sindicalistas, envolvidos ou não em escândalos. Do mesmo Sindicato dos Bancários de São Paulo saiu Luiz Gushiken, que já foi um dos homens mais poderosos do atual governo, quando chefiava a Secretaria de Comunicação, a Secom. Perdeu poder após denúncias de que teria feito contratos publicitários sem licitação pública.

A lista de ex-militantes sindicais ainda abriga o ex-ministro Antonio Palocci, que caiu com o escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Palocci militava no sindicalismo da área médica - o mesmo meio de onde Humberto Costa, ex-ministro da Saúde, cujo nome figura na lista dos acusados no escândalo dos vampiros. Ele já dirigiu o Sindicato dos Médicos de Pernambuco.

Delúbio Soares, que não tinha cargo definido no governo, mas despachava no Planalto e foi apontado como articulador do esquema do mensalão, ao lado do publicitário Marcos Valério, também teve origem no meio sindical. Atuava no Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás e ajudou a organizar a CUT naquele Estado.

Os velhos amigos sindicalistas não estão instalados apenas em cargos próximos da Presidência da República. O ex-metalúrgico Jair Meneguelli, que também conheceu Lula na militância de São Bernardo e chegou a dirigir a CUT, preside o Conselho Nacional do Sesi. Na chefia da Previ, o maior fundo de pensão da América Latina, encontra-se Sérgio Rosa, que já presidiu a Confederação Nacional dos Bancários, ligada à CUT.

José Eduardo Dutra, que chefiou a Petrobrás nos primeiros anos governo Lula, é outro que teve origem no meio sindical. Paulo Okamotto, presidente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) também foi diretor no histórico sindicato de São Bernardo. É uma lista que vai longe.