Título: 'Malta se enrola cada vez mais', diz relator
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Nacional, p. A18
O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), relator do processo contra Magno Malta (PL-ES) no Conselho de Ética do Senado, considerou 'inconsistente e sem credibilidade' o depoimento do deputado Lino Rossi (PP-MT), que depôs ontem como testemunha de defesa de Malta, acusado de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Rossi prestou depoimento em sessão secreta mas, na avaliação de Demóstenes, teve um 'péssimo desempenho': 'O deputado é um poço de contradição, se contradisse o tempo inteiro.'
Malta foi acusado de ter recebido um carro de presente da família Vedoin, dona da Planam, a empresa que administrava o esquema dos sanguessugas. Em troca, o senador do PL teria apresentado emendas ao Orçamento-Geral da União para a compra de ambulâncias a preços superfaturados. Ele nega a acusação.
Segundo o relator, as contradições de Rossi se explicitaram nas próprias explicações dadas por Malta. Demóstenes explica: primeiro ele disse que teria comprado o carro da Planam; depois afirmou que tinha recebido o veículo como doação; por último, numa terceira versão, contou que havia adquirido o carro de uma factoring.
O veículo, segundo anotou o relator, não está listado na declaração de bens apresentada por Malta ao Imposto de Renda. Por essas razões, Demóstenes acha que o melhor caminho de investigação, agora, é seguir a pista da movimentação de um cheque de R$ 50 mil que, segundo Darci Vedoin, um dos donos da Planam, teria sido usado na compra do carro.
Demóstenes se irritou profundamente com o depoimento de Lino Rossi, que também foi acusado de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Para ele, Rossi 'é um mentiroso', que não vai ajudar na defesa do senador capixaba. 'Magno Malta está se enrolando cada vez mais, mas eu não posso adiantar ainda um parecer sobre o caso', afirmou ontem o senador pefelista, ao avaliar, entre outras coisas, o fato de ele apresentar um recibo sem assinatura como 'prova' de que teria devolvido o carro a Rossi.
ADIAMENTO
Ontem o Conselho de Ética do Senado deveria votar o parecer de Jefferson Peres (PDT-AM), relator do caso do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), também acusado pela CPI dos Sanguessugas de envolvimento no esquema. Mas a votação acabou sendo adiada para 4 de outubro, por falta de quórum: apenas 5 dos 15 membros do conselho compareceram à sessão.
Da mesma forma ficou para outubro o processo contra a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Assessores de seu gabinete, ouvidos ontem pelo relator Paulo Octávio (PFL-DF), negaram que a senadora tivesse apresentado emendas ao orçamento para compra de ambulâncias dentro do esquema da Planam.
CÂMARA
Na Câmara, a CPI das Sanguessugas pediu a cassação de 69 deputados, concluindo que havia evidências de envolvimentos deles com o esquema de venda de ambulâncias e de equipamentos hospitalares superfaturados para prefeituras, com recursos de emendas parlamentares ao Orçamento da União.
A fraude passou a ser investigada pelo Congresso após a Polícia Federal prender 47 pessoas acusadas de ligação com a máfia, em maio, na Operação Sanguessuga. A PF estima que desde 2001 a quadrilha teria movimentado R$ 110 milhões.
Dos 69 deputados acusados pela CPI, 2 renunciaram aos mandatos para fugir do processo no Conselho de Ética. Outros tentam atrasar os processos, fugindo da notificação, o que levou a Câmara a adotar o critério de publicar o edital depois de três tentativas de notificá-los, uma delas com hora marcada.