Título: 'Venezuelanos não têm essa liberdade', rebate Bolton
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Internacional, p. A20
O embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, informou ontem que a cadeira que corresponde ao país na Assembléia-Geral esteve vazia enquanto o presidente venezuelano, Hugo Chávez, discursava. 'Mas deixamos um jovem tomando nota, como costumamos fazer quando a palavra é dada a governos como esse', acrescentou. Em tom irônico, Bolton disse que Chávez estava na ONU porque tinha direito a dar sua opinião. 'É uma pena que o povo da Venezuela não tenha a mesma liberdade de expressão', prosseguiu. 'As pessoas sérias puderam ouvir o que ele tinha a dizer, e as que fizeram isso rejeitaram o discurso.'
Inicialmente, o governo americano se recusou a comentar de forma oficial o discurso de Chávez. À noite, porém, o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, disse ser 'decepcionante que um chefe de Estado parta para ataques pessoais'.
O deputado republicano pela Flórida Connie Mack afirmou que as palavras de Chávez na Assembléia-Geral da ONU demonstram por que a Venezuela não merece um assento no Conselho de Segurança do organismo. A Venezuela disputa com a Guatemala uma vaga não-permanente no conselho.'As diatribes de Chávez contra a liberdade só fortalecem a conclusão de que ele não é mais do que o paladino do desalento e do despotismo e um inimigo declarado da esperança', disse Mack.
Horas depois do discurso de Chávez, o presidente guatemalteco, Oscar Berger, defendeu na Assembléia-Geral a candidatura de seu país como a 'opção responsável' para o Conselho de Segurança.
Em apoio a Chávez, um dos vice-presidentes cubanos, Esteban Lazo, acusou os EUA de adotarem um duplo discurso em relação ao terrorismo internacional ao darem abrigo ao anticastrista cubano-venezuelano Luis Posada Carriles - um ex-agente da CIA acusado do planejamento de um atentado contra um avião da companhia Cubana de Aviación, em 1976, que matou 73 pessoas. Cuba e Venezuela pedem a extradição de Posada Carriles, que está sob custódia da Justiça americana desde o ano passado.
O presidente argentino, Néstor Kirchner, não mencionou diretamente os EUA em seu discurso, mas denunciou 'políticas de combate ao terrorismo global que recorrem à violação global dos direitos humanos'. Crítico de longa data das instituições financeiras internacionais, Kirchner acusou o Banco Mundial e o FMI de criar obstáculos para o desenvolvimento dos países.
Em sua estréia na Assembléia-Geral, a presidente chilena, Michelle Bachelet, disse que a credibilidade do organismo ficou comprometida pela demora do Conselho de Segurança em obter um cessar-fogo entre Israel e o grupo guerrilheiro libanês Hezbollah.