Título: Papa: 'Respeito profundamente os muçulmanos'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Internacional, p. A22

De volta ao Vaticano, após as férias no palácio de verão de Castel Gandolfo, o papa Bento XVI explicou mais uma vez, na tradicional audiência-geral das quartas-feiras, o sentido de suas palavras sobre Maomé e a violência proferidas, semana passada, na Universidade de Regesburg, na Alemanha.

'Para o leitor atento de meu texto, fica claro que eu não queria, de nenhum modo, fazer minhas as palavras negativas pronunciadas pelo imperador medieval naquele diálogo e que seu conteúdo polêmico não exprime a minha convicção pessoal', disse o papa, depois de afirmar que sua citação de um diálogo do imperador bizantino Manoel II Paleólogo com um sábio persa sobre o Islã foi mal interpretada.

'Espero que, em diversas ocasiões de minha vida - por exemplo, quando em Munique eu sublinhei quanto é importante respeitar o que para os outros é sagrado -, tenha aparecido com clareza o meu respeito profundo pelas grandes religiões e, em particular, pelos muçulmanos, que adoram o único Deus e com os quais estamos empenhados em defender e promover juntos, para todos os homens, a justiça social, os valores morais, a paz e a liberdade', acrescentou Bento XVI.

A multidão, calculada em 20 mil fiéis, aplaudiu com entusiasmo o discurso do papa, concluído com um apelo à concórdia, depois de uma semana de protestos dos muçulmanos em todo o mundo. 'Confio que, após as reações do primeiro momento, minhas palavras na Universidade de Regensburg possam representar um incentivo e um encorajamento a um diálogo positivo, também autocrítico, seja entre as religiões, seja entre a razão moderna e a fé dos cristãos', disse Bento XVI.

Essa nova manifestação sobre o episódio da Alemanha não acrescentou muita coisa ao que o papa já havia falado, domingo, em Castel Gandolfo, mas a repercussão foi boa. A emissora de televisão Al Jazira, do Catar, líder de audiência no mundo árabe, informou em transmissão ao vivo que Bento XVI havia dito que suas palavras foram mal interpretadas.

A segurança foi reforçada no Vaticano para a audiência-geral. Ninguém, nem mesmo as freiras, escapou a uma cuidadosa revista.Policiais com detectores de metais checavam todos os objetos suspeitos, até pequenas cruzes e medalhas. Bento XVI não parecia, no entanto, muito preocupado com as ameaças de atentado feitas nos últimos dias. Ele chegou num jipe aberto, em vez de usar o papamóvel, de vidros blindados. Percorrreu as alamedas que separam os peregrinos por blocos e cumpri mentou pessoas das primeiras filas.

A Procuradoria de Roma abriu inquérito para apurar ameaças feitas pela internet contra a vida de Bento XVI. O chefe do grupo de combate ao terrorismo, Franco Ionta, rastreia com sua equipe a origem de mensagens anônimas. As autoridades italianas entendem quenão apenas o papa e a Cidade do Vaticano, mas também Roma , correm o risco de ser atacados por radicais muçulmanos.