Título: Reforma do FMI premia dinamismo
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2006, Economia, p. B5

Em busca de um papel no mundo globalizado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) abriu oficialmente uma ambiciosa reforma política. Maior poder de voto será conferido às economias emergentes mais dinâmicas e às mais pobres, por meio de uma redistribuição de cotas.

Ao encerrar a assembléia anual ontem, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, agradeceu aos ministros Guido Mantega, do Brasil, e Palaniyappan Chimdambaran, da Índia, por sua participação nos debates. Os dois foram os críticos mais enfáticos da resolução sobre as cotas. Mantega disse, numa entrevista, que a montanha havia parido um rato.

O nome do ministro foi incluído de improviso no discurso porque não aparece no texto distribuído. 'Eu entendo bem que a votação desta semana ainda não é o fim de nosso trabalho sobre as cotas, mas o começo de um processo que continuará no próximo ano', disse o diretor.

Os governos de Brasil, Índia, Argentina e Egito, opositores da resolução aprovada na segunda-feira por 90,6% dos votos, deverão batalhar para que a fórmula final atenda aos seus interesses. Eles pretendem evitar que alguns emergentes percam votos em benefício de outros. Apontam também o risco de maior concentração de poder, com mais cotas para Estados Unidos, Alemanha e Japão.

O governo dos EUA anunciou que, nesse caso, não usará o direito de comprar mais cotas, contentando-se com a participação atual de cerca de 17%. Isso já garante aos americanos o poder de veto nas decisões mais importantes, que dependem de 85% dos votos. Os alemães disseram que não renunciarão ao direito de ter mais votos e os japoneses não se definiram.

China, Coréia, México e Turquia foram os beneficiados na primeira correção de cotas. Com isso, a China passa da 8ª para a 6ª posição, tomando o lugar da Itália, e o México, da 19ª para a 16ª, no lugar da Espanha. O Brasil cai da 17ª para a 18ª.

A reforma das cotas é parte da Estratégia de Médio Prazo lançada por Rato. Inclui novos mecanismos de supervisão de mercados, de prevenção de riscos e de consultas multilaterais. A rodada inicial de consultas está centrada nos desequilíbrios de balanços de pagamentos e boa parte da conversa é sobre o rombo nas contas externas americanas e o câmbio chinês subvalorizado. A China continua a repelir as pressões para valorizar o yuan.

A avaliação do quadro mundial divulgada pelo FMI é um pouco mais pessimista que a do ano passado. Desde então, confirmaram-se as previsões de que o petróleo continuaria caro, suas cotações poderiam subir um pouco mais e as pressões inflacionárias aumentariam.

Apesar disso, a economia mundial continuou a crescer e a estimativa para este ano subiu de 4,9% para 5,1%. Para 2007, a expansão prevista é 4,9%. Mas permanecem as preocupações com petróleo e inflação, que, segundo economistas do FMI, aumentaram porque as grandes economias têm menor capacidade ociosa. Diante disso, novos aumentos de juros poderão ocorrer nos EUA e em outros países do Primeiro Mundo.

O risco de uma nova onda protecionista, no caso de fracasso da Rodada Doha, foi apontado com insistência por Rato. Ele voltou a alertar para o risco no discurso de encerramento da assembléia. 'Uma maré de protecionismo deixará todos em pior situação.'