Título: ACM diz que tem raiva da campanha tucana
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2006, Nacional, p. A8

Depois de passar duas semanas insistindo para que o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) ataque Lula no horário eleitoral gratuito do rádio e da TV, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse ontem que está com ¿raiva¿ da campanha do tucano, que seu partido apóia. E enunciou o que, na opinião dele é o grande erro da propaganda de Alckmin: ¿O ponto fraco do Lula é a ética e a corrupção, (mas) isso não está nos programas do PSDB. E eles (petistas) ainda dizem que os corruptos somos nós.¿

O desabafo do senador pefelista foi feito durante encontro com o presidente nacional do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), na sala de café dos senadores. Um encontro sob o impacto da pesquisa CNT/Sensus, que mostrou Lula 31,8 pontos à frente d o tucano.

Tasso conversava com os jornalistas e tentava explicar por que a campanha do tucano ainda estava ¿fria¿ quando ACM se aproximou e começou a emitir opiniões de maneira desabrida sobre o assunto. Pelo diálogo captado pelo repórter Felipe Recondo, do Blog do Noblat (noblat1.estadao.com.br), ACM chegou a cobrar de Tasso que fizesse por Alckmin o que conseguira fazer por Cid Gomes, candidato do PSB ao governo do Ceará. Tasso rompeu com o governador tucano Lúcio Alcântara, candidato à reeleição, para apoiar a candidatura do irmão de seu velho amigo e ex-ministro de Lula, Ciro Gomes. Cid Gomes, segundo a última pesquisa Datafolha, passou Alcântara e está com 13 pontos porcentuais de vantagem sobre ele.

Os trechos mais importantes do diálogo entre Tasso e ACM foram estes:

- Se ele (Alckmin) quiser ficar com a linguagem que o Tasso mandou ele ter, ele nem vai chegar perto (de Lula). Até eu fico com raiva. Tem que bater, pô!

Tasso tenta argumentar, mas ACM prossegue:

- Não pode continuar assim. Estou lhe falando como amigo.

E emenda uma pergunta ao presidente do PSDB:

- Quem está cuidando da campanha?

Os jornalistas e Tasso respondem juntos à pergunta:

- É o Gonzalez (Luiz Gonzalez, marqueteiro da campanha).

ACM responde:

- Eu não conheço nem quero conhecê-lo.

E continua falando a Tasso:

- Você fez uma campanha boa para o Cid Gomes, podia fazer pro Alckmin.

Tasso pede aos jornalistas:

- Não publiquem isso...

Tasso levanta-se. Sorrindo, pede ¿um particular¿ a ACM, numa tentativa de conter as críticas do aliado a Alckmin. O senador prossegue o sermão:

- O FHC abriu a porta hoje quando diz que não discute com ladrão, que lugar de ladrão é na cadeia. Quando ele diz isso e os tucanos não seguem, tá tudo perdido.

Os jornalistas fazem uma pergunta capciosa a ACM: querem saber se uma disputa de Lula contra o tucano José Serra, que nesta eleição é candidato ao governo de São Paulo, seria diferente. O senador pefelista, que não gosta de Serra, responde fugindo da pergunta:

- Eu lutei pelo Alckmin.

- E o senhor se arrepende?

ACM fica em silêncio.