Título: Volks demite 1,8 mil e enfrenta greve
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2006, Economia, p. B1
Trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, entraram em greve ontem, por tempo indeterminado, logo depois que a montadora iniciou a entrega de 1,8 mil cartas de demissão. A empresa informa que o desligamento será efetivado a partir de 21 de novembro, quando termina o acordo de garantia de emprego em vigor há cinco anos. A paralisação foi aprovada em assembléia. Os cerca de 4 mil funcionários do turno da tarde entraram na fábrica, mas não ligaram as máquinas. O mesmo deve ocorrer hoje com o turno da manhã.
No início da tarde, a empresa confirmou o envio das 1,8 mil cartas. Desse grupo, 1,3 mil são trabalhadores da ativa e 500 participavam do Centro de Formação e Estudos (CFE), criado em 2003 com o objetivo de ajudá-los a buscar novas colocações no mercado.
O envio das cartas ocorreu um dia depois que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou a suspensão de um empréstimo de R$ 497,1 milhões que seriam liberados para a montadora. O banco informou que só autoriza o desembolso depois que a empresa e o sindicato concluírem as negociações para o plano de reestruturação.
A fábrica Anchieta, a maior e mais antiga do grupo no País, emprega 12,8 mil trabalhadores e produz 940 veículos ao dia dos modelos Kombi, Gol, Saveiro, Polo e Fox Europa. Também é responsável pelo fornecimento de peças de forjaria, motores e câmbios para as unidades de Taubaté (SP) e São José dos Pinhas (PR), que poderão ter a produção afetada pela greve.
¿Começamos com greve, mas avaliaremos diariamente as estratégias do movimento¿, avisou o coordenador da Comissão de Fábrica, Wagner Santana.
A Volks queria negociar com os trabalhadores um plano de reestruturação que previa redução de benefícios trabalhistas e 3,6 mil demissões até 2008, sendo 1,8 mil neste ano. A montadora informou que, se houvesse aval do sindicato para os cortes, ofereceria salários extras para os que saíssem, desde que indicados pela própria empresa.
Como não houve acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que defendia um programa de demissão voluntária (PDV), a empresa cumpriu a ameaça feita na semana passada e antecipou a lista de dispensas, informando que só pagará o que está previsto em lei. A Volks também ameaçou elevar para 6,1 mil o número de demitidos e até fechar a fábrica. Ontem, não comentou o assunto.
¿A Volkswagen demonstra grande desrespeito aos trabalhadores¿, disse o presidente do sindicato, José Lopez Feijóo. Segundo ele, entre quarta-feira e domingo, período em que as partes negociaram, a entidade tentou um acordo, mas a empresa não abriu mão de adotar o plano de reestruturação nos moldes anunciados no início de maio.
¿Não quero ter nas costas o fechamento dessa fábrica, mas seria irresponsável fazer um acordo que não respeita os direitos dos trabalhadores¿, justificou Feijóo, que creditou a crise a erros estratégicos e administrativos da própria montadora. ¿Enquanto as outras empresas lançavam produtos novos, nós produzíamos veículos obsoletos. Não podemos pagar por esse erro¿, disse o sindicalista, ressaltando que a luta será difícil.
Em maio, quando anunciou a intenção de cortar até 6 mil postos nas 3 fábricas de carros no País, a Volks alegou queda nas exportações por causa da política cambial. Da produção total, 40% é exportada. Desde então, o governo anunciou a modernização do sistema cambial e uma linha do BNDES para exportação. A empresa informou que o plano ajudaria a melhorar sua competitividade. O grupo tem prejuízos no Brasil há 8 anos.