Título: `Os bancos falam o que pensam e eu também¿
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2006, Economia, p. B3

Um dia depois de deixar o posto de economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Roberto Troster afirmou que não sai magoado da entidade e que isso faz parte do trabalho. ¿O que os bancos pensam eles falam. O que eu penso eu falo.¿

A saída do executivo foi motivada por críticas feitas ao pacote de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para reduzir o spread bancário. Entre as medidas da chamada MP do spread estão cadastro positivo, portabilidade do crédito, DOC reverso e redução da contribuição dos bancos ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Na ocasião, Troster afirmou que as medidas eram ¿manobras diversionista¿ que não levariam à redução significativa das taxas cobradas do consumidor. Para contornar o mal-estar entre a entidade e o ministério, a Febraban desautorizou as declarações do economista-chefe, afirmando que o pronunciamento de Troster não representava a opinião da entidade.

Troster trabalhou durante 5 anos na Febraban e durante esse tempo foi um dos principais porta-vozes da entidade. Em entrevista ao Estado, ele não quis comentar os fatos que levaram à desautorização de suas declarações pela Febraban, já que as críticas sempre foram um discurso da associação. Depois do conflito, o executivo tirou licença de uma semana para pensar sobre o assunto. Na volta, na segunda-feira, decidiu, em consenso com a entidade, deixar o posto de economista-chefe. Ao contrário do que diz o comunicado da Febraban, Troster afirmou que ainda não tem planos para o futuro. ¿Ainda estou organizando as coisas.¿

Apesar da turbulência provocada pelas críticas, Troster mantém sua posição sobre o pacote de medidas do governo. Para ele, o spread (diferença entre o custo de captação do dinheiro e o que é emprestado para o consumidor) somente terá uma queda expressiva para o consumidor se o governo decidir reduzir a carga tributária e a taxa de compulsório no Brasil (53% sobre o volume depositado nos bancos).

¿Sem isso, continuaremos tendo os maiores spreads do mundo.¿ Para ele, não faz sentido termos um imposto como o IOF incidindo sobre o crédito. Assim como não é necessário um recolhimento tão alto de compulsórios, como há hoje no País.

Para o economista, as medidas propostas pelo ministro da Fazenda, apenas vão amenizar o spread no Brasil. ¿As propostas vão na direção correta, mas ainda são poucas. É preciso atacar o problema principal¿, afirmou o ex-porta-voz da Febraban.