Título: Economistas vêem espaço para corte de 0,5 ponto na taxa Selic
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2006, Economia, p. B3

Apesar de o mercado acreditar que o Comitê de Política Monetária (Copom)do Banco Central (BC) deverá reduzir em 0,25 ponto porcentual a taxa Selic, economistas ouvidos pelo Estado acham que haveria espaço para um corte maior, de 0,5 ponto porcentual, sem riscos inflacionários. É que os índices de preços estão bem comportados e o ritmo de atividade não dá sinais de aceleração.

¿O Copom poderia cortar os juros básicos em mais de 0,25 ponto porcentual, sem problemas¿, afirma o economista da MB Associados, Sérgio Vale. Mesmo assim, a consultoria projeta uma redução de 0,25 ponto porcentual da Selic, atualmente em 14,75% ao ano.

Segundo Vale, o BC está mais cauteloso porque teme que o efeito do afrouxamento da política monetária, iniciado em setembro do ano passado e que já reduziu em 5 pontos porcentuais a taxa básica de juros, ainda não tenha se manifestado plenamente sobre a demanda. ¿Eles estão olhando o impacto em 2007.¿

O economista-chefe da Sul América, Newton Rosa, diz que o Banco Central está preocupado com a economia mais para frente. Hoje a inflação está sob controle e a atividade está em ritmo moderado por causa da política monetária austera adotada no passado.

Rosa aposta que o corte deve ser de 0,25 ponto porcentual. Ele acredita que o Banco Central será mais comedido na redução especialmente porque o nível atual da Selic está próximo da taxa de juros neutra. A taxa de juros neutra é aquela de equilíbrio, que, teoricamente, não teria efeitos sobre a demanda e a oferta, explica. ¿Em 2004, quando os juros básicos caíram para um nível próximo da taxa de equilíbrio, houve um crescimento da demanda. Isso obrigou o BC a subir os juros novamente¿, lembra Rosa.

Guilherme Maia, economista da Tendências, diz que a consultoria elevou de 0,25 para 0,5 ponto porcentual a aposta no corte da taxa Selic. ¿Os fatores de risco melhoraram¿, afirma o economista.

Como prováveis fatores de risco interno ele aponta a inflação baixa e a atividade crescendo dentro das condições de oferta. Do lado externo, os fatores de risco seriam as incertezas em relação ao aumento dos juros nos EUA e à evolução dos preços do petróleo, que, por sua vez, não foram alteradas.

A LCA Consultores também acredita que haveria espaço para um corte superior a 0,25 ponto porcentual na taxa de juros, embora acompanhe a maioria do mercado. Segundo o economista Ricardo Vieira, a última ata da reunião do BC sinalizou que a decisão em relação aos juros deverá ser mais cautelosa.

¿Existe uma defasagem entre a redução das taxas e os efeitos sobre a demanda e os preços¿, diz Vieira. É exatamente nesse sentido que o BC vai esperar para ver esses efeitos aparecerem antes de manter o ritmo mais acelerado nas reduções.

MINORIA

O gerente de Política Monetária do Itaú, Joel Bogdanski,também acredita que há espaço para um corte de 0,5 ponto percentual da Selic na reunião do Copom que termina hoje. Potém, essa aposta é minoria no mercado. De 53 analistas consultados pela Agência Estado, 40 esperam um corte de 0,25 ponto porcentual, ancorados na expressão ¿maior parcimônia¿ da última ata do Copom.

Porém, segundo o economista, ¿o cenário desde a última reunião evoluiu de maneira muito melhor do que se imaginava no tocante à inflação¿. Na opinião de Bogdanski, a única pressão inflacionária que se espera até o final do ano é a do reajuste de combustíveis. ¿Não há necessidade de utilizar `maior parcimônia¿ neste momento¿, disse ele, ressaltando ainda que os efeitos dos corte de juros não foram espetaculares.

Bogdanski não acredita que um corte de 0,5 ponto possa ser interpretado como problema de comunicação do Banco Central com o mercado ou que essa decisão possa trazer volatilidade. ¿A autoridade monetária não pode fazer comprometimento firme com decisões futuras. O que o BC avisou (na ata) é que esse ritmo pode ser reduzido¿, afirmou.