Título: Diretoria da Inco rejeita oferta, mas a vale continua no jogo
Autor: Mônica Ciarelli, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2006, Negócios, p. B14
A companhia Vale do Rio Doce perdeu a primeira batalha pelo controle da canadense Inco, segunda maior produtora mundial de níquel. Ontem, o conselho de administração da Inco rejeitou a oferta da mineradora brasileira e recomendou aos seus acionistas que aceitem a proposta feita pela concorrente americana Phelps Dodge. A palavra final será dada pelos acionistas em votação no dia 7 de setembro.
Em nota, a Vale classificou sua oferta ¿em dinheiro¿ de 86 dólares canadense por ação da Inco - cifra que chega a quase US$ 18 bilhões - como ¿superior¿ à da Phelps Dodge e disse estar confiante em reverter a situação na assembléia de acionistas. A Vale entrou na disputa no último dia 11, concorrendo com a Phelps e com a também canadense Teck Cominco. A Teck, porém, acabou desistindo do negócio há duas semanas.
O principal atrativo da oferta brasileira, segundo a direção da Vale, era prever o pagamento em dinheiro, enquanto as concorrentes lançariam mão de artifícios contábeis, como troca de ações, para alcançar o valor oferecido pelo controle da Inco.
Em comunicado divulgado ontem, o conselho de administração da Inco, no entanto, rebateu declarações da direção da Vale a respeito de ter a melhor oferta. A Phelps Dodge propôs o pagamento de 87 dólares canadenses por ação, ainda que parte da operação inclua troca de ações.
Segundo a Inco, a Vale não se mostrou disposta a elevar sua oferta. ¿O acordo com a Phelps Dodge, embora esteja sujeito a exceções, requer que o conselho da Inco continue a recomendar aos acionistas que votem em favor dele, a menos que o conselho determine que uma oferta de compra rival constitui uma proposta superior¿, diz a nota do conselho.
O analista da Unibanco Corretora, Rodrigo Barros, disse acreditar que a proposta da Vale pela Inco é a melhor e que o negócio está muito próximo de ser fechado. A análise do banco é que a principal razão para o conselho da Inco continuar apoiando a oferta da Phelps é a multa de 475 milhões de dólares canadenses que a direção da empresa terá de pagar no caso de parar de recomendar aos acionistas que aceitem a oferta.
O analista diz ainda esperar que até 7 de setembro, quando haverá a reunião dos acionistas da Inco, a Vale pode elevar sua proposta para compensar a Inco do pagamento da multa à Phelps. Isso pode significar US$ 500 milhões a US$ 600 milhões a mais na oferta feita pela Vale.
¿Foi mais ou menos esperado. Não é o final de batalha¿, disse o analista do Itaú, Paolo di Sora, referindo-se à rejeição da proposta da companhia brasileira. Ele notou que Inco e Vale começaram a negociar em meados de agosto e que a mineradora canadense esperava que a Vale aumentasse sua oferta. ¿Eu acho que é possível que a Vale faça um aumento na oferta e aí a administração da Inco vai apoiar. Por isso, acredito que estamos em um capítulo intermediário de uma novela que vai ainda ter outros capítulos.¿
ENDIVIDAMENTO
A recusa foi bem recebida no mercado financeiro, que temia um endividamento maior da Vale caso a operação fosse concluída. O que, por tabela, poderia diminuir os dividendos distribuídos aos acionistas.
As ações da mineradora brasileira chegaram a disparar na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No fim do pregão, no entanto, fecharam em baixa de 0,63%, acompanhando o ritmo mais fraco do principal índice da bolsa, o Ibovespa, que caiu 0,19%. Na Bolsa de Toronto, as ações da Inco também fecharam em queda, de 1,27%.
Ao fazer a oferta pela Inco, a Vale segue sua estratégia de diversificar as atividades, já que não encontra espaço para crescimento no mercado de minério de ferro. Se aprovada, a incorporação da Inco pela Vale criaria a segunda maior mineradora do mundo em valor de mercado - US$ 77 bilhões, ficando atrás apenas da BHP Billiton, que vale US$ 135,3 bilhões.