Título: Governo transfere presos e aperta RDD; à noite, PCC retoma atentados
Autor: Marcelo Godoy, Bruno Tavares e Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2006, Metrópole, p. C1

O Primeiro Comando da Capital voltou a atacar em São Paulo. A nova onda de atentados seguiu o mesmo padrão das anteriores: os alvos foram a polícia e bancos. A suspeita da polícia é que tudo tenha sido causado pela transferência de 76 presos do Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes para Avaré feita ontem pela Secretaria da Administração Penitenciária. A atitude pode ter feito o PCC adiantar o plano de voltar a atacar no dia 31 de agosto, data da fundação da organização criminosa.

Na Região Metropolitana, o primeiro ataque atingiu um carro estacionado na frente de uma base PM em São Bernardo do Campo. A segunda ação ocorreu às 21h30. Um homem encapuzado ateou fogo em quatro caixas eletrônicos do Unibanco no Brooklin, zona sul. Imagens do ataque foram registradas pelo circuito interno de TV. Depois, bandidos atacaram uma agência bancária no Sumaré, zona oeste. O fogo foi apagado antes de destruir a agência.

Em Ribeirão Preto, no interior, foram registrados pelo menos dois atentados. No fim da tarde, um tiro foi disparado contra o CDP, na Rodovia Abraão Assed. Às 19h10, o ataque foi contra uma agência do Banespa, na Avenida 13 de Maio, no Jardim Paulista. Três tiros foram disparados contra o banco. Em Santos, no litoral, homens passaram em uma motocicleta e balearam o vigia de escola.

Em São Paulo, a Polícia Civil reforçou a segurança nas delegacias. Até as 23h50, a polícia não tinha como avaliar a dimensão dos ataques. ¿Toda a polícia já está em alerta¿, disse, às 22h30, o delegado-geral, Marco Antônio Desgualdo.

Desde anteontem, o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) estava em alerta sobre a possibilidade de ações do PCC. A informação foi repassada para todas as regiões do Estado, inclusive para o Departamento de Inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (Disap) e para os promotores da região oeste, que investigam a facção.

Para o promotor André Luís Felício, do Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Presidente Prudente, o novo levante tem relação com aniversário de fundação do PCC, comemorado amanhã. ¿É muito provável que essa ordem tenha sido repassada às visitas no domingo para ser executada nesta semana¿, disse.

Felício lembra que, tradicionalmente, as ações da facção ocorrem sempre um dia antes das datas emblemáticas. Foi assim em março de 2003, quando criminosos assassinaram o juiz Antônio José Machado Dias. O crime ocorreu no dia 14, véspera do 15.3.3 (código da facção que representa as posições das letras PCC no alfabeto).

Hoje, a cúpula da Segurança Pública deve se reunir com o Exército para acertar ações na área de inteligência e definir estratégias contra o crime. Devem participar o Comando Militar do Sudeste e o Centro de Informações do Exército (CIE).

TRANSFERÊNCIA

As transferências que teriam desencadeado os ataques começaram às 9h45 de ontem. Sob forte aparato de segurança, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) transferiu 76 detentos de alta periculosidade que cumpriam pena no CRP de Presidente Bernardes.

Segundo o governo, o objetivo é cortar de vez a comunicação entre celas vizinhas e reformar setores danificados em quebra-quebras, no início de julho. Foram mobilizados para a operação 40 homens da PM para levar os presos prestes a sair do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) à Penitenciária 1 de Avaré, que também tem vagas no RDD. Os 76 detentos vão ficar em Avaré até o término das obras em Bernardes.

As celas do CRP serão revestidas com chapas de aço. Com duração prevista de 120 dias, as obras devem custar R$ 391 mil. Marcos Camacho, o Marcola, e outros integrantes da cúpula da facção seguem no CRP. ¿Marcola e companhia não saem de lá¿, disse o secretário Antônio Ferreira Pinto.