Título: Família assiste a tudo e cai no choro
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Nacional, p. A4

Foi um dia tenso, ontem, em Porto Velho. Desde as 6 horas da manhã, pontos estratégicos do centro da cidade foram tomados por mais de 300 policiais vindos de quatro Estados. Ao todo, foram decretadas 23 prisões e cumpridos cerca de 60 mandados de busca e apreensão, inclusive em sedes de Poderes, como o Tribunal de Justiça e a Assembléia Legislativa.

A prisão mais dramática foi a do presidente do TJ. Os policiais chegaram a sua casa pouco depois das 6 horas, quando o desembargador, de calção e tênis, se preparava para sua caminhada matinal. Os policiais se identificaram com educação e informaram que cumpriam mandado de busca. Pensando ter o controle da situação, Sebastião Chaves relutou por alguns minutos, mas acabou cedendo. Só depois de recolherem tudo que buscavam, os policiais lhe deram voz de prisão.

A mulher e dois filhos que assistiam a tudo caíram no choro. No momento em que as buscas eram realizadas, outros juízes, promotores e amigos começaram a ligar para o desembargador, a fim de avisar que estavam sendo presos e pedir socorro. Chaves informava, desolado, que também era alvo da operação.

A contaminação dos Poderes chegou a tal ponto que a PF levantou no relatório da operação a possibilidade de intervenção federal no Estado. Seria a primeira vez que isso ocorreria por conta de corrupção.

À última hora, por conta de limitações legais, a prisão de alguns suspeitos, requerida pela PF, não foi autorizada. Um dos que escaparam da prisão por enquanto foi o procurador-geral de Justiça, Abdiel Ramos Figueira, que continuará, porém, a ser investigado. O deputado Amarildo Almeida (PTB) não foi preso porque escapou do flagrante, mas teve capturada toda a sua equipe de assessores.

Outro que se safou, mas assistiu à captura de um filho e de assessores foi o deputado Haroldo Santos (PP). Operador dos mais ativos da quadrilha, foi também preso o diretor-geral da Assembléia, José Ronaldo Palitot, junto com o diretor de Recursos Humanos, Emerson Santos, a quem é atribuída a tarefa de administrar a folha paralela de salários.

A atuação ímproba de autoridades tem impedido o funcionamento normal das instituições em Rondônia, segundo a PF. "O nível de comprometimento de membros do Ministério Público, Tribunal de Contas e Tribunal de Justiça põe abaixo o princípio republicano da separação dos Poderes, do check and balances (freios e contrapesos), em que os Poderes são independentes e harmônicos entre si e exercem mútua fiscalização", diz o relatório da operação.

Shopping Estadão