Título: Ex-presidente da Assembléia do ES é preso
Autor: Marcelo Auler
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Nacional, p. A6
O ex-presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo José Carlos Gratz, apontado como principal chefe do crime organizado no Estado, não conseguiu completar seis meses em liberdade. Fora da cadeia desde fevereiro por decisão da Justiça estadual, foi novamente preso ontem de manhã, em casa, uma cobertura na Praia do Canto, em Vitória. A prisão foi feita por agentes da Polícia Federal do Rio, por ordem do desembargador Andar Fontes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio e Espírito Santo).
Fontes também determinou a prisão do ex-diretor da Assembléia capixaba André Luiz Nogueira. Gratz e Nogueira foram levados para o Rio no início da noite. Eles devem permanecer detidos na carceragem especial Ponto Zero, destinada a presos com curso superior. Gratz, Nogueira e outras três pessoas respondem por crimes de corrupção e formação de quadrilha.
Como envolve o juiz federal Macário Ramos Judice Neto, o processo contra Gratz corre no TRF sob segredo de Justiça. Ramos, que responde a mais ações no Superior Tribunal de Justiça (STJ), é acusado de dar sentenças que beneficiaram o grupo de Gratz, acusado de desviar verbas. Em retribuição, segundo as investigações, Gratz empregou Ana Karla Kohls, amante do juiz, na Assembléia, que presidiu de 1999 a 2002. Também ré no processo, Ana Karla receberia diárias por viagens fictícias, além do salário. Com isso, Ramos e Ana Karla compraram um apartamento de luxo incompatível com seus salários. Ela acabou demitida da Assembléia, a pedido do próprio juiz, pressionado pela mulher.
O processo, cujo quinto réu é o ex-deputado Almir Braga Rosa, começou em 2005, quando o plenário do TRF aceitou denúncia da Procuradoria da República no Rio. Na época, Gratz estava preso por ordem da Justiça estadual. Desde sua libertação, em fevereiro, após 13 meses de prisão, procuradores temiam que ele influenciasse o processo, pressionando testemunhas.
Gratz entrou na política após enriquecer como banqueiro do jogo do bicho. Foi eleito deputado pela primeira vez em 1990. Até a primeira prisão, em fevereiro de 2003, enfrentara mais de dez ações e inquéritos, até por suposto envolvimento em homicídio. Ele foi preso sob acusação de pagar propina a 26 deputados, em 2000, para ser reeleito presidente da Assembléia. Em setembro de 2003, passou seis dias preso, acusado de desviar dinheiro do Banco do Estado do Espírito Santo. Nos dois casos obteve habeas-corpus.
Em 2004, foi preso novamente, acusado de apropriação de dinheiro público, usurpação de função pública, formação de quadrilha e superfaturamento em licitação para um seguro predial para a Assembléia. Sem mandato desde 2002, quando decisão da Justiça Eleitoral impediu sua posse, Gratz foi condenado no ano passado a 15 anos de prisão por esse caso.