Título: Lula visita Caixa como presidente, mas faz campanha como candidato
Autor: Leonencio Nossa e Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Nacional, p. A14

Em dia de intensa campanha pela reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou na manhã de ontem programa eleitoral, fez corpo-a-corpo na sede da Caixa Econômica Federal em horário de expediente e viajou à noite para São Paulo, para participar de jantar com intuito de arrecadar dinheiro. Depois de beijar e tirar fotos com funcionários do banco, ele esquentou uma polêmica travada na internet sobre uma suposta proposta do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, de privatizar os bancos federais. "Penso que sairá da cabeça de qualquer brasileiro a idéia de que bancos como estes têm de ser privatizados", disse Lula.

Oficialmente, o presidente visitou a Caixa para uma reunião com a diretoria da instituição. Mas, por mais de uma hora, cumprimentou funcionários, tumultuou setores que funcionam no quarto e no décimo andares do banco, recebeu aplausos, deixou-se fotografar e ouviu o jingle da campanha de 2002 (olé-olé-olé-olá-Lula, Lula). Na reunião de "trabalho" com a presidente da Caixa, Maria Fernando Ramos, e diretores - aberta à imprensa -, Lula disse que o Brasil tem muito a ensinar na área de bancos aos demais países pobres e emergentes.

Ele chegou a defender a instalação de agências da Caixa e do Banco do Brasil na Nigéria, país considerado por organismos internacionais como um dos mais corruptos da África. "Em se tratando de bancos, eu acho que o nosso serviço e a nossa tecnologia não devem nada a ninguém", avaliou o presidente. "É importante que nossos bancos comecem a adentrar nessa globalização. Fico pensando: por que na Nigéria, que é um país de 140 milhões de habitantes, não tem agências bancárias nossas?"

"Precisamos ser mais arrojados, porque acabou o tempo em que se pensava que relação internacional era só com Estados Unidos e União Européia", afirmou Lula. No discurso, ele considerou que este é o melhor momento da Caixa. "Hoje, a Caixa é mais banco do que já foi em qualquer outro momento, atende mais e tem mais solidez na relação com os clientes." Ele não fez referências ao escândalo da violação da conta na Caixa do caseiro Francenildo Costa, que resultou, em abril, na demissão do então presidente do banco, Jorge Mattoso, e do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Sem citar os adversários, ele afirmou que a Caixa esteve perto de quebrar "muitas vezes". "Os privatistas publicavam manchetes e mais manchetes para dizer que a Caixa e o Banco do Brasil tinham déficit", ressaltou o presidente. "A Caixa está fazendo muito mais do que já fez em qualquer outro momento da sua história, está cuidando do povo pobre e não está tendo déficit, mas um superávit no final do ano. Não fecha mais em vermelho, fecha em verde, azul ou outra coisa qualquer."

Lula afirmou que 4,2 milhões de pessoas abriram contas populares desde 2003. "Só o fato de vocês terem brasileiros que antes não conseguiam passar nem na porta de banco e hoje são clientes já é a revolução de uma palavra mágica chamada inclusão bancária." Ele observou, no entanto, que a Caixa visa ao lucro. "Tem de ter seriedade, porque isso aqui não é uma casa de favores, isso aqui é uma casa de captação e empréstimo de recursos." Segundo o presidente, "está provado que a Caixa é competitiva e sabe fazer mais do que pagar as coisas do governo".

Em sua avaliação, no que se refere a bancos, o Brasil não deve nada a outros países. "Só que a gente muitas vezes aceita ser tratado como subdesenvolvido, emergente, de menor porte, quando na verdade, para qualquer coisa que você olhar no mundo, o Brasil está entre os oito, os dez, os cinco maiores", disse. A Índia e a China, que chamam a atenção pelas taxas elevadas de crescimento, bem superiores às do Brasil, são considerados países emergentes.