Título: Israel destrói pontes no Líbano
Autor: Eduardo Salgado
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Internacional, p. A20

BEIRUTE - Aviões israelenses bombardearam ontem pela primeira vez desde o começo da guerra várias pontes na região norte de Beirute e mataram mais de 40 pessoas em todo o Líbano.

No Vale do Bekaa, perto da fronteira síria, um ataque aéreo matou 30 trabalhadores e feriu 20 - incluindo muitos sírios e curdos - quando carregavam um caminhão refrigerado com frutas e legumes na vila de Qaa. Os bombardeios destruíram um armazém próximo, que os militares israelenses aparentemente concluíram ser um depósito de armas do Hezbollah.

Israel tem atacado caminhões que suspeita de transportar armas para o Hezbollah. Nos bombardeios, já atingiu comboios de suprimentos médicos e ônibus levando refugiados. No sul do Líbano, um ataque da aviação a uma casa em Taibe matou 7 civis e feriu dez. Na madrugada de hoje, aviões voltaram a bombardear o sul de Beirute e, pela primeira vez, Israel usou helicópteros para atacar alvos na cidade de Tiro. Depois, comandos israelenses desembarcaram perto de Tiro.

BEIRUTE

Os habitantes da capital acordaram ontem com os locutores de rádio pedindo que evitassem sair de casa. Os ataques às quatro pontes afetaram a principal ligação entre Beirute e o norte do país, a única grande estrada usada para sair do Líbano que ainda estava intacta, já que a rodovia de ligação com Damasco está danificada em vários pontos. Era por essa rota no norte que o Líbano estava sendo abastecido por caminhões vindos da Síria. No mínimo, cinco pessoas morreram nesse ataque às pontes e dez ficaram feridas, segundo a imprensa libanesa.

Com medo de mais mortes, o governo ordenou por algumas horas o fechamento de estradas vicinais. A região xiita no sul de Beirute - já bastante devastada - foi bombardeada mais uma vez na quinta-feira e na madrugada de ontem. Antes, aviões israelenses haviam lançado folhetos avisando que a área deveria ser esvaziada. Um soldado libanês morreu e seis civis ficaram feridos.

Os bombardeios das pontes atingiram áreas cristãs - raramente afetadas no atual conflito - e espalharam o medo. O tráfego na capital ontem voltou a diminuir de ritmo. No começo da semana, a movimentação nas ruas tinha aumentado, dando a impressão de que a população não acreditava em novos ataques. ¿Logo no início da guerra, todo mundo foi embora pois temia ser morto por uma bomba. Quando as pessoas viram que o alvo de Israel eram os bairros xiitas, começaram a voltar. Agora todo mundo fugiu mais uma vez¿, disse George Khoury, dono de um pequeno supermercado em Ain Al-Roumaneh, um bairro cristão de Beirute. Nas regiões cristãs do Líbano é forte a oposição ao Hezbollah, principalmente por ter iniciado o atual conflito.

Funcionários de organizações humanitárias estão preocupados com a falta de estradas para receber e distribuir alimentos e remédios. Com a destruição das quatro pontes na principal artéria do norte, aumenta a insegurança dos funcionários e diminuem as opções para a entrada de caminhões em Beirute. Até agora, poucos comboios receberam garantias de segurança de Israel. A principal via de acesso entre Beirute e o sul, onde estão as pessoas mais necessitadas, já está toda danificada. Em parte de sua extensão, viadutos e passagens de pedestres destruídos são uma barreira para os veículos. A viagem é longa por causa dos desvios e perigosa em função dos ataques.

Na sexta-feira, na região xiita no sul de Beirute, foram raros os estabelecimentos que abriram as portas. Um deles foi a loja de sapatos de Moh Ali Hassan, a poucas quadras da área bombardeada: ¿Tínhamos seis filiais. Três já foram destruídas. Se não abrirmos, vamos acabar matando nossas famílias de fome.¿ Hassan viu os folhetos lançados por aviões israelenses, mas decidiu ficar no bairro. ¿Ir para onde? As escolas estão cheias, e Israel está atacando os abrigos na nossa área¿, diz. Os únicos três clientes nos últimos dois dias foram xiitas que saíram correndo da região próxima à fronteira com a roupa que tinham no corpo e chegaram a Beirute de sandálias.

Não há pesquisas sobre a opinião dos xiitas a respeito do papel do Hezbollah na guerra. Hassan e seus dois assistentes têm muitas críticas a Israel e nenhum comentário negativo sobre o comportamento do grupo. ¿Israel continuaria atacando o Líbano de qualquer jeito. Faria isso mesmo que o Hezbollah parasse de atingir o território israelense com foguetes. Liberdade não vem sem sangue¿, diz.