Título: Colegiado governa Cuba, diz jornal
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Internacional, p. A24

O governo cubano está a cargo de um colegiado liderado pelo irmão de Fidel Castro, Raúl, de acordo com informações publicadas ontem pelo jornal espanhol El País, que omite a identidade de suas fontes. Todos os membros desse colegiado já integram o núcleo de poder do Partido Comunista.

Entre eles, destacam-se o vice-presidente do Conselho de Estado, Carlos Lage, e o chanceler Felipe Pérez Roque. Outras peças-chave da junta de governo, segundo o jornal, são o diretor de Organização do PCC, José Ramón Machado Ventura, e o ministro da Saúde, José Ramón Balaguer. Completam o colegiado o presidente do Banco Central de Cuba, Francisco Soberón, o chefe do Departamento de Relações Internacionais do partido, Esteban Lazo, e o presidente da Assembléia Nacional (Parlamento), Ricardo Alarcón. Assim como Raúl, nenhum deles apareceu em público depois do anúncio da operação de Fidel.

Ainda de acordo com El País, os "comentários informais" são de que o estado do líder cubano não é grave e ele deve se recuperar antes da próxima Reunião de Cúpula do Movimento dos Países Não-Alinhados, de 11 a 16 de setembro, em Havana.

No Escritório de Interesses dos EUA em Havana não foram detectados sinais de mudança de rotina. No painel eletrônico instalado no sexto andar do edifício, que divulga notícias e mensagens políticas, o Departamento de Estado americano informava: "Os EUA asseguram aos cubanos que o governo americano não apoiará nenhum esforço (do regime cubano) para desalojá-los." A mensagem, aliada ao pronunciamento que a secretária de Estado Condoleezza Rice divulgou ontem pela TV Martí (ler na pág. 26), indica o principal temor de Washington no momento: a possibilidade de um êxodo em massa de cubanos para o território americano.

Na véspera, o presidente americano, George W. Bush, declarou que os EUA estavam dispostos a ajudar qualquer governo cubano empenhado na transição para a democracia. Mas deixou claro que não considera que Raúl seja capaz ou queira realizar essa tarefa.

Em resposta, a imprensa oficial cubana ressaltou ontem a calma no país e rejeitou o termo "transição", reafirmou a autoridade de Raúl e disse que Cuba está "pronta para enfrentar os planos anexionistas" e as agressões americanas. "Transição é uma palavra que não faz parte do vocabulário dos cubanos daqui. Para nós, as notícias falam sobre trabalhar mais e melhor para cumprir o compromisso com Fidel", diz o diário oficial Granma. "Os cubanos estamos prontos para a defesa, como disse Fidel Castro em sua Proclamação ao Povo Cubano (de segunda-feira), e aí está Raúl, firme no timão da nação e das Forças Armadas, que nada mais são do que o povo uniformizado", continua o Granma.

"Sedentos de vingança e cheios de ódio, os chacais da extrema direita americana e a máfia de Miami alimentam suas frustradas esperanças contra a revolução e proclamam novos planos agressivos contra nosso povo", disse, por seu lado, a TV estatal.

A edição de ontem do Granma lembrava também as "ações heróicas" de Raúl na frustrada tentativa de assalto do Quartel Moncada, em 1953. Na véspera, o Granma reproduziu um discurso feito por Fidel em junho, no qual ele reiterou que o Partido Comunista é "o único herdeiro digno" da confiança depositada no líder cubano.

Alina Revuelta, filha de Fidel que fugiu de Cuba em 1993, contratada nos últimos dias como colaboradora da rede de TV americana CNN, disse ontem na emissora não acreditar que Raúl tenha a pretensão de se tornar um novo Fidel. "Ele não pretende ser líder, mas tem o apoio da instituição mais forte do país, as Forças Armadas", declarou Alina. Segundo especulações de jornais europeus, Raúl não fez nenhuma aparição pública nos últimos dias, entre outros motivos, por estar deprimido. A mulher dele está gravemente doente.