Título: Quintuplica câncer de mama em jovens
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Vida&, p. A28

Um levantamento feito pelo Hospital do Câncer de São Paulo mostra que o câncer de mama afeta mulheres cada vez mais jovens no Brasil. Em 1999, do total de pacientes que tiveram a doença detectada no hospital, 17 tinham menos de 35 anos. Em 2004, os novos casos nessa faixa de idade saltaram para 84. Em cinco anos, o número de mulheres jovens com câncer de mama quintuplicou.

Entre os diversos tipos da doença, o de mama é o segundo que mais atinge as mulheres. Em primeiro lugar, aparece o de pele não melanoma. O de mama, no entanto, é o que mais mata as mulheres no Brasil. No ano 2000, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram 8.232 mortes. A cada ano, o País registra perto de 40 mil novos casos.

Entre 1999 e 2004, os números de casos novos de câncer de mama registrados por ano no Hospital do Câncer foram, na ordem, 17, 26, 34, 35, 38 e 84. Em todo esse período, o número de mulheres com a doença atendidas foi praticamente o mesmo, variou entre 2.495 e 2.952. Ou seja, não houve apenas um aumento absoluto, mas também proporcional. Em 1999, 0,68% das mulheres eram jovens. Em 2004, 2,8%.

O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, tem outro levantamento que confirma a tendência - e com um número ainda mais alto. O Núcleo de Mastologia da instituição, que funciona há dois anos, identificou nesse período que, de todas as mulheres que chegaram com câncer de mama, 6% tinham menos de 35 anos. Até pouco tempo atrás, segundo os médicos, a taxa estimada era de 1%.

Ainda não se sabe com precisão o motivo para o crescimento do câncer de mama nessa faixa etária. "Por enquanto, temos apenas hipóteses. Uma delas tem a ver com a ação dos hormônios sexuais femininos", afirma o médico Mário Mourão Netto, diretor do Departamento de Mama do Hospital do Câncer.

O hormônio estrogênio é um dos responsáveis pela formação dos tumores. Uma das hipóteses levantadas para a maior incidência tem relação com o fato de as adolescentes menstruarem cada vez mais cedo, o que faz com que fiquem mais tempo sob a influência do hormônio sexual.

Além disso, as mulheres de hoje tendem a ter menos filhos e a engravidar pela primeira vez com mais idade - ou seja, menstruam mais vezes, são mais afetadas pelo estrogênio e sentem menos os efeitos protetores dos hormônios da placenta e da amamentação. "A mulher está pagando o preço por se casar mais tarde e ter filhos mais tarde", resume Alfredo Barros, coordenador do Núcleo de Mastologia do Sírio-Libanês.

SEDENTARISMO E OBESIDADE O sedentarismo e a obesidade também têm papel no crescimento da doença. A falta de exercícios físicos inibe a produção do hormônio endorfina, que tem papel na regulação dos hormônios femininos. O excesso de peso é favorável ao aparecimento do tumor porque o colesterol concentrado no tecido adiposo leva à formação do estrogênio.

"As teorias alentadas para esse súbito aumento consideram os hábitos da vida moderna", afirma Barros, médico do Sírio-Libanês. Ele cita o fato de as pessoas estarem cada vez mais expostas à poluição e a radiações e consumirem alimentos gordurosos e com muitos conservantes químicos.

No final do mês passado, o Sírio-Libanês realizou um simpósio internacional sobre o tema, com a presença de médicos de hospitais americanos, canadenses e europeus. Um dos debates tratou exclusivamente das particularidades do câncer de mama em mulheres jovens.

MAMOGRAFIA Atualmente, a faixa de mulheres mais afetada pelo câncer de mama é a do grupo que tem entre 40 e 50 anos. Por isso, os médicos recomendam que se submetam regularmente a mamografias a partir dos 40. A indicação atual é que o exame seja feito a cada dois anos a partir dessa idade e passe a ser anual só depois do 50. Muitos médicos, no entanto, já sugerem que a mamografia seja realizada anualmente a partir dos 40.

O fato de os tumores de mama atingirem as jovens é realmente um fato novo. O site do Inca, que é ligado ao Ministério da Saúde e é considerado o centro de referência no Brasil no estudo e no tratamento da doença, informa que esse tipo de tumor é "relativamente raro antes dos 35 anos de idade".

Todas as mulheres devem fazer com freqüência o auto-exame da mama. Raramente a mamografia é indicada antes dos 40, pois as mamas das jovens são mais densas, o que dificulta a identificação de nódulos. Nesses casos, é necessário realizar exames mais sofisticados e caros, como a ressonância.

A médica Sue Campos, do Dana Farber Cancer Institute, de Boston (EUA), acredita que o aumento também tenha relação com a detecção precoce da doença. Ela afirma que as mulheres antes não tinham o hábito de fazer o auto-exame e, portanto, só descobriam o câncer mais tarde. "As jovens hoje estão recebendo bastante informação sobre temas de saúde", diz ela, que participou do simpósio promovido pelo Sírio-Libanês em São Paulo.

MAIS AGRESSIVO Embora não haja consenso, muitos médicos afirmam que o tumor numa mulher jovem é muito mais agressivo que numa de mais idade. Segundo eles, por causa da maior concentração de hormônios, o tumor pode crescer com mais velocidade.

O tratamento também é distinto. Nas mulheres mais velhas, normalmente se faz tratamento com hormônios, além de quimioterapia e radioterapia. Nas mais novas, o comum é que não se usem hormônios. Em todos os casos, é sempre necessária a cirurgia para retirar o nódulo. Remove-se um pedaço ou a mama inteira, dependendo do estágio da doença.

O principal grupo de risco é o de mulheres que tiveram a mãe ou uma irmã com a doença antes da menopausa.